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sexta-feira, 4 de maio de 2012

Portugal está a ganhar "massa altamente qualificada"

por Lusa
Portugal está a ganhar uma "massa altamente qualificada" de cientistas no estrangeiro, que deverá trazer frutos no futuro próximo, afirma o cientista Pedro Reis, diretor de um laboratório no Massachusetts Institute of Technology, Estados Unidos.



Criador de um novo grupo de investigação nos Departamentos de Engenharia Civil e Ambiental e Engenharia Mecânica do MIT, na área da nanotecnologia, Reis recebeu recentemente o "prémio de Liderança" dos seus pares portugueses nos Estados Unidos, a sociedade de pós-graduados PAPS.

"Há que pensar com visão. A ciência e inovação é feita num meio global e, se não tivermos bem posicionados nesse meio, não saímos da cepa porta", disse à Lusa o cientista português, natural de Viseu e a viver há 16 anos no estrangeiro.

Com passagens também por universidades britânicas e francesas, Reis afirma que até há alguns anos Portugal tinha "um rede de contactos científica internacional muito, muito pequena", em comparação com países como Espanha, Itália ou Grécia, e aqueles que estudavam no estrangeiro normalmente não ficavam.

"Havia essa falha. Sem uma rede, torna-se muito mais difícil posicionar Portugal em laboratórios de topo. Esta rede pode beneficiar muito a ciência portuguesa", afirma.

Até 2011, Reis era o único professor português no MIT, mas agora tem outro compatriota no Departamento de Matemática, além de dezenas de alunos que têm passado pela faculdade ao abrigo do programa de associação com universidades portuguesas.

"Temos agora um ambiente de crise, as oportunidades académicas não abundam [em Portugal]. Mas depois da tempestade vem sempre a bonança, e tendo esta massa altamente qualificada no estrangeiro a poder voltar é sempre uma mais-valia para o país", adianta.

Atribuído em parceria com a consultora portuguesa Leadership Business Consulting, o prémio "liderança" da PAPS reconhece o trabalho do cientista português na investigação de "instabilidades mecânicas", através de experiências modelo, computação e modelação teórica.

Reis descreve o seu trabalho no laboratório de Elasticidade, Geometria e Estatística como investigação "fundamental", mas com aplicações industriais de estruturas finas como circuitos eletrónicos flexíveis, lentes de contacto ou até ferramentas de perfuração nas indústrias de gás natural e petróleo.
Os objetos finos podem suster grandes deformações sem que o material se altere de forma irreversível, mas o seu comportamento físico ainda não é totalmente entendido pela Ciência.

Reis apresentou recentemente uma nova estrutura flexível, a Buckliball, baseada em conceitos da arte em pape japonesa Origami, que pode vir a ter aplicações em fármacos.

Uma das "saídas" da investigação é a robótica flexível, em que "há oportunidades enormes em começar a pensar o que acontece em eletrónica em roupa, telefones que se podem transformar em braceletes, dobrar", afirma.

"Estamos a tentar mudar o paradigma no estudo da mecânica de estruturas finas ou flexíveis, para transformar o que é normalmente associado a falha ou rutura em novas oportunidades funcionais em estruturas flexíveis", adianta Reis.

O investigador vê mesmo um paralelo entre este tipo de investigação e a situação de "instabilidade geral" que Portugal vive hoje.

"É olhar para estes problemas e descobrir neles oportunidades", disse à Lusa.