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terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Visão cristalina: nanopartículas lipídicas

Novo método promete tratamentos mais eficazes para males que acometem os olhos. Trata-se de mais um dos truques da nanotecnologia.

Visão cristalina
A nova estratégia terapêutica pode ser usada
em qualquer doença que afete a parte superficial dos
olhos, desde infecções fúngicas ou bacterianas até glaucomas.
 (foto: Wikimedia Commons/ Rotfloleb – CC BY SA 3.0)         

Seus olhos ardem. O médico receita um colírio – e aquelas bem-vindas gotas aliviam seu desconforto por alguns instantes. Mas há um problema: o efeito de qualquer fluido, após aplicado sobre nossa córnea, costuma durar apenas alguns instantes.

“É porque a formulação fica muito pouco tempo em contato com o olho”, explica a farmacêutica Taís Gratieri, da Universidade de Brasília (UnB). Em menos de cinco minutos, o líquido é drenado pelas vias lacrimais. Assim, nem sempre penetra o tecido e surte o efeito desejado.

Por isso, Gratieri vem estudando um método capaz de fazer o fármaco permanecer em contato com o olho por mais tempo. Assim o princípio ativo do medicamento – seja ele qual for – teria maior interação com a região ocular e seus efeitos curativos seriam potencializados.

E não é que deu certo? A boa sacada rendeu à pesquisadora o Prêmio para Mulheres na Ciência, concedido pela L’Oréal Brasil em parceria com a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco) e a Academia Brasileira de Ciências (ABC).

Nanotecnologia, sempre ela

O truque é bastante simples – isto é, simples em teoria. Gratieri desenvolveu um método que utiliza nanopartículas lipídicas capazes de encapsular um fármaco qualquer e atuar de maneira mucoadesiva.

 Traduzindo: o remédio ‘gruda’ na camada de muco que recobre a superfície da córnea e ali fica por muito mais tempo. Garante-se assim que a aplicação seja mais bem aproveitada pelo nosso organismo.

“Fizemos estudos in vitro com córnea de porco e de vaca e os resultados foram positivos”, conta a pesquisadora. “As nanopartículas lipídicas também aumentam a solubilização do fármaco, o que permite aumentar sua concentração na formulação, tornando a terapia mais eficiente”, acrescenta. A equipe espera iniciar estudos clínicos em breve.

O método pode ser aplicado para uma gama ampla de males – desde infecções fúngicas ou bacterianas até glaucomas. “A técnica pode ser útil no tratamento de praticamente qualquer doença que acomete a parte superficial do olho”, diz a pesquisadora da UnB.

Não tão depressa

As notícias são boas. Mas, em se tratando de pesquisas na área médica, avanços costumam ser lentos. Que o leitor não pense que um novo e milagroso colírio, por exemplo, estará à venda já no ano que vem ali na farmácia da esquina.
“Já concluímos a primeira etapa do estudo: desenvolvemos as nanopartículas lipídicas e nela encapsulamos um antifúngico para o tratamento de ceratite fúngica”, diz Gratieri. “Mas ainda estamos desenvolvendo o processo de recobrimento dessas partículas, o que ainda pode levar algum tempo”, contextualiza.

Atualmente, os estudos estão sendo feitos em parceria com a Universidade Federal de Goiás (UFG).
Se tudo der certo, dentro de alguns anos testes clínicos deverão colocar o novo medicamento à prova. Previsões para que o tratamento esteja disponível à população? É cedo para dizer.

Henrique Kugler
Ciência Hoje On-line

Fonte: Ciência Hoje