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quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Cooperação Brasil - Eslovênia

Eslovênia planeja cooperar com Brasil em CT& e Espaço



José Monserrat Filho *

A Eslovênia é um pequeno grande país no Leste da Europa, vizinho da Áustria ao norte, da Hungria à leste, da Croácia à leste e ao sul, e da Itália e do Mar Adriático a oeste. Tem 20.273 km², mais de dois milhões de habitantes, um PIB estimado em US$ 48 milhões e um PIB per capita de cerca de US$ 25,6 mil, o que lhe confere o confortável 29º lugar neste ranking.


De história milenar, a Eslovênia já fez parte do Império Romano, do Império Bizantino, da República de Veneza, do Ducado da Carantania, do Sacro Império Romano-Germânico, da Monarquia de Habsburgo, do Império Austríaco, do Império Áustro-Húngaro, do Reino dos Sérvios, Croatas e Eslovenos, do Reino da Iugoslávia e da República Socialista Federativa da Iugoslávia. Em 1991, conseguiu, enfim, tornar-se independente.

Sua capital, a bela Liubliana, com 272 mil habitantes, é a maior cidade do país. A Eslovênia é membro da União Europeia (UE) desde 2004, da Zona do Euro, da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), do Conselho da Europa e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). A maior parte da população fala esloveno, do grupo de línguas eslavas. O húngaro e o italiano também são reconhecidas como línguas oficiais em áreas de fronteira.

Desenvolvimento científico e tecnológico – O avanço da Eslovênia em CT&I é destaque na Europa. O país conta com apreciável malha de Centros de Excelência (CEs), constituídos em sua maior parte com recursos da UE. Os CEs coordenam redes de pesquisa apoiadas nas mais renomadas instituições e em numerosas empresas eslovenas, tendo em vista a relevância conferida à orientação industrial e comercial das pesquisas científicas.
Os Centros de Excelência são nada menos de oito:

1) CE Materiais Polímeros (POLIMAT);
2) CE para Ciências e Tecnologias Espaciais (SPACE-SI);
3) CE para Nanociência e Nanotecnologia (Nanocenter);
4) CE para Materiais Avançados e Tecnologias do Futuro (NAMASTE);
5) CE para Abordagens Integradas em Química e Biologia das Proteínas (CIPKeBiP);
6) CE para Biosensores, Instrumentalização e Controle de Processos (COBIK);
7) CE para ressonância magnética e biologia sintética (EN-FIST); e
8) CE para Tecnologias de Baixo Carbono (CO NOT).

Apresentação dos Centros de Exclência – Recentemente, em 17 de dezembro, a Diretoria-Geral para a Diplomacia Econômica da Chancelaria da Eslovênia, promoveu, no Parque Tecnológico de Liubliana, uma grande apresentação de todos os Centros de Excelência, de suas avanços e os problemas que eles enfrentam hoje.

O evento foi presidido pelo Ministro da Educação, Ciência, Cultura e Esportes, Ziga Turk, e teve a presença do Conselheiro do Primeiro Ministro para a Diplomacia Econômica, Tone Kajzer. O Encarregado de Negócios do Brasil na Eslovênia, André Makarenko, participou do encontro e preparou um informe a respeito, que serviu de base para este texto.
O Ministro Turk enfatizou a competitividade da área científica e tecnológica do país e o grau de excelência atingido em vários nichos de pesquisa. Elogiou o alto nível de produtividade dos pesquisadores eslovenos, que têm uma das maiores taxas per capita de publicações de artigos científicos em todo o mundo. Mencionou também o caráter inovador das propostas da comunidade acadêmica e louvou a criação dos CEs que hoje reúnem a elite da C&T.

Eslovênia quer 3% do PIB para CT&I – O titular da Pasta da Ciência e Educação destacou ainda os esforços do atual governo para aumentar os investimentos em P&D, a fim de alcançarem 3% do PIB esloveno anual. A meta oficial é cobrir um terço desses investimentos com recursos públicos e promover, via inventivos fiscais, a participação de empresas privadas para responderem pelos dois terços restantes. As medidas de atração de investimentos para o setor compensariam, segundo o Ministro Turk, a relativa estagnação das verbas estatais, resultante da política de austeridade orçamentária defendida pelo Governo. A estratégia, além disso, contribuiria para aumentar a integração entre a ciência e a indústria.
O Ministro Turk reconheceu uma das falhas da política científica eslovena: o tímido impacto econômico dos investimentos em C&T. O fato é visível em muitos países, inclusive no Brasil, onde se tem feito um grande esforço para mudar a situação,

Incrementar a integração entre ciência e indústria – Ainda que a qualidade dos CEs da Eslovênia seja reconhecida mundialmente, essa conquista  ainda não se materializou em ganhos de competitividade industrial. Daí a prioridade atribuída pelo Ministro Turk à maior interação entre as comunidades científica e industrial. Os CEs seriam o  passo decisivo nessa direção. Comprovariam a viabilidade da ideia de converter a pequena e brava Eslovênia numa importante plataforma industrial de alta tecnologia bem no coração da Europa.

Internacionalização – Para tanto, disse o Ministro, é preciso ampliar o grau de internacionalização dos CEs. Ele lamentou que ainda são baixos os índices de baixos índices de mobilidade internacional dos cientistas eslovenos e de participação do capital estrangeiro em projetos de pesquisa na Eslovênia. E prometeu priorizar a criação de parcerias com centros de pesquisas no exterior e a formação de equipes científicas internacionais no país.
Além disso, considerando que os projetos com parceiros da UE já recebem financiamento da comunidade europeia, ele anunciou que passará a enfatizar o uso dos recursos próprios da Eslovenia no processo de internacionalização dos meios científicos dando prioridade a projetos desenvolvidos com instituições não-europeias.

Interesse pelo Brasil – Após as intervenções do Ministro Turk e dos dirigentes dos CEs, muitos deles procuraram o Encarregado de Negócios do Brasil para expressar interesse em cooperar com instituições brasileiras ou em estimular empresas “spin-offs” a atuarem no mercado nacional.

Representantes do NAMASTE (materiais polímeros) e do POLIMAT (materiais avançados e tecnologias do Futuro) integraram a missão eslovena de CT&I e de empresas que visitou São Paulo em junho passado. O NAMASTE já contatou a USP e busca aprofundar laços com institutos de química no Brasil. A POLIMAT está interessada em possível cooperação com a EMBRAPA. Seu primeiro “spin-off” seria um fertilizante de longa duração, a ser introduzido no mercado brasileiro.

Cooperação espacial – O Diretor do SPACE-SI contou ao Encarregado de Negócios do Brasil ter visitado várias vezes o Brasil, tendo encontros no INPE e na empresa binacional Alcântara Cyclone Space (ACS). E sublinhou de seu interesse de lançar micro satélites eslovenos a partir do Centro de Alcântara (CLA), no Maranhão, de envolver as instituições eslovenas em projetos binacionais com o setor espacial brasileiro, além de passar a receber, no centro esloveno de recepção de dados de satélites, imagens do novo Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres (CBERS-3), a ser lançado em 2013. Por tudo isso, é recomendável estabelecer um contato entre o SPACE-SI e a Agência Espacial Brasileia (AEB), visando um possível processo de cooperação.

Boas perspectivas Brasil-Eslovênia – A quantidade de patentes e projetos inovadores produzidos pelos CEs, em áreas prioritárias para o Brasil, como as listadas no Programa Ciência sem Fronteiras, reforça, segundo o Encarregado de Negócios André Makarenko, a percepção da Embaixada do Brasil em Liubliana de que parecem oportunas e importantes as iniciativas no sentido de ampliar e aprofundar os laços científicos, tecnológicos e industriais entre o Brasil e a Eslovênia.

* Chefe da Assessoria de Cooperação Internacional da Agência Espacial Brasileira (AEB)


Fonte: Agência Espacial Brasileira