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terça-feira, 24 de abril de 2012

Avanço das partículas elementares


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MARIANA SCOZ



Remédios que atingem diretamente a área a ser tratada são uma das possibilidades mais trabalhadas na aplicação da nanotecnologia à saúde



Cosméticos
Produtos de beleza avançam com o uso da tecnologia
A área da cosmetologia também se utiliza da nanotecnologia como ferramenta para aperfeiçoar produtos. Segundo a professora de cosmetologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Silvia Stanisçuaski Guterres, a cosmética foi uma das áreas pioneiras. “Desde os anos 90 temos produtos com nanotecnologia no mercado”, conta.
Entre as possibilidades, Silvia destaca as revoluções nos cremes e hidrantes. “É possível modular o grau e a velocidade de penetração de substâncias na pele, além de entregar um determinado ativo em uma camada precisa da pele”, explica. A duração e eficácia podem ser melhores com o uso da ferramenta.
A perfumaria também recebe facilidades na duração das essências na pele. Esmaltes de unha podem tratar e hidratar ao mesmo tempo. Mas uma novidade ainda em estudo é um produto com partículas que sentem a deficiência na pele e que são liberadas no momento que a pele precisar.
Hidrante
A Skingen Inteligência Genética, unidade do Grupo Boticário, usa da tripla nanotecnologia para um novo produto que entrega substâncias na camada de pele responsável pelos processos de envelhecimento. O produto é manipulado de acordo com a genética da pessoa, depois de um teste e um laudo de dermatologista.
O pesquisador Marlus Chorilli da Faculdade de Ciências Farmacêuticas do câmpus Araraquara da Universidade Estadual Paulista (Unesp) também desenvolveu uma formulação antienvelhecimento com base na nanotecnologia. O produto possui cristais líquidos na ordem de nanômetros que podem penetrar em camadas mais internas da pele, com controle da velocidade em que o princípio ativo é liberado.
Áreas de aplicação
A nanotecnologia é uma ferramenta em várias áreas da saúde. De acordo com o professor do Instituto de Ciência e Tecnologia da Unifesp Silvio Eduardo Duailibi, cinco campos já vêm recebendo grandes inovações com as novas possibilidades que a ferramenta traz.
Biofármacos
um exemplo são os drug delivery, que transportam o fármaco encapsulado até o local, onde a cápsula se solta, fazendo efeito apenas na região necessária.
Materiais implantáveis
os materiais podem fazer reparação ou troca de tecidos. Uma forma é a construção em três dimensões em um biopolímero, no qual aderem células. O conjunto pode ser implantado em um organismo vivo, tendo uma melhor aceitação do corpo.
Dispositivos implantáveis entre os diversos tipos de dispositivos, os biosensores podem ser implantados no organismo e informam a frequência cardíaca por sinal de rádio.
Apoio cirúrgico
com a nanotecnologia, pode haver uma melhora em equipamentos e instrumentação cirúrgica. O robô cirurgião, que guia a mão do médico, também recebe o auxílio da ferramenta.
Ferramentas de diagnóstico os testes genéticos dão um salto com a visualização em escala nano. Outra possibilidade são os marcadores ultrassensíveis que localizam o defeito ou o vírus que circula no sangue, que podem ser retirados usando nanopartículas.


A nanotecnologia – dada sua altíssima precisão – tem grande potencial para revolucionar a área da saúde nos próximos anos. Considerada pelos técnicos como uma ferramenta, vem sendo utilizada há mais de 30 anos em cosméticos e remédios que estão nas prateleiras de farmácias. Agora ela está sendo aplicada em estudos com fármacos direcionados a partículas com capacidade de destruir tumores, por exemplo.

A definição clássica da nanotecnologia se refere ao tamanho em que é feito o controle da matéria: são dimensões entre 0,1 a 100 nanômetros (medida que equivale a um bilionésimo de metro). A nanotecnologia proporciona uma precisão maior, tendo em vista que trabalha com partículas muito pequenas. No caso da aplicação a sistemas biológicos, farmacêuticos e médicos, a extensão é mais abrangente. “Ela se torna o desenho, a caracterização e a aplicação de estruturas, dispositivos e sistemas manipulados nessa escala, produzindo materiais com pelo menos uma característica ou propriedade nova ou superior”, explica Nelson Eduardo Durán Caballero do Instituto de Química da Unicamp.

As produções na área da saúde ainda são incipientes, mas já têm apresentado resultados promissores. “Um exemplo é a nanopartícula magnética, que responde a um campo magnético externo para ser conduzida ao alvo. Lá ela é aquecida, entre 5 a 8 graus, podendo destruir células tumorais”, explica Zulmira Guerrero Marques Lacava, diretora do Centro de Nanociência e Nanobiotecnologia da Universidade de Brasília (UnB). Se­­gundo os estudos que ela tem conduzido, a eficácia da nanopartícula é de 66%.

Remédios que atingem diretamente a área a ser tratada são uma das possibilidades mais trabalhadas na aplicação da nanotecnologia à saúde. “Isso pode ser essencial no tratamento de câncer. Com a entrega da droga diretamente ao alvo, efeitos colaterais são diminuídos, pois o fármaco não afeta todo o corpo”, diz Zulmira. Para Caballero, esse uso da ferramenta é um fato, mas há uma preocupação. “Neste momento, é preciso saber exatamente a toxicidade desses medicamentos a longos períodos.”

Para os especialistas, não existem mais limites, pois o potencial da nanotecnologia é enorme. “A história da ferramenta é longa, pois temos vestígios dela desde 2 mil anos atrás. Mas, nos últimos 30 anos, a base teórica dada pela física se fortaleceu e a partir de agora as possibilidades só aumentam”, diz o professor adjunto do Instituto de Ciência e Tecnologia da Unifesp Silvio Eduardo Duailibi.

O professor também destaca uma frase de Raj Bawa, especialista em nanotecnologia norte-americano. “Segundo ele, a nanotecnologia é a mais nova e recente expressão da criatividade humana. Se usarmos a inteligência e a criatividade, sem dúvidas, as possibilidades são infinitas.”