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quinta-feira, 6 de setembro de 2012

A eterna busca da pedra filosofal


FERNANDOR@GAZETADOPOVO.COM.BR
Os alquimistas da Idade Média dedicaram suas vidas à busca da pedra filosofal – substância que poderia transmutar qualquer metal em ouro e da qual seria possível extrair o elixir da eternidade. A alquimia anda fora de moda há séculos. Mas a procura daqueles protocientistas medievais segue firme, ainda que de forma bem diferente. Afinal, o motor da história da humanidade talvez possa ser resumido em dois desejos que a pedra hipotética atenderia: riqueza abundante e vida eterna.
Com abordagens muitas vezes completamente distintas, civilizações variadas construíram seus alicerces sobre essas duas aspirações, ora com mais ênfase na busca de uma, ora na outra. A sociedade contemporânea não foge da regra. Organiza-se basicamente para produzir crescimento econômico. Ou seja, para gerar riqueza a partir de matérias de menor valor, tal qual imaginavam os alquimistas. O homem moderno tampouco esquece do sonho da eternidade. A medicina nada mais faz que tentar encontrar o elixir da vida longa.
A pedra filosofal muda de nome, mas sempre é objeto do desejo dos homens. Para alguns, hoje ela se chama nanotecnologia, a ciência dos objetos minúsculos, do tamanho de átomos. Em reportagem da Gazeta do Povo publicada na segunda-feira, o pesquisador Rajender Varma, da Agência Norte-Americana de Proteção ao Meio Ambiente (EPA, na sigla em inglês), diz que a nanotecnologia terá aplicação na indústria farmacêutica – a procura pelo elixir. E assegura que em breve será possível obter ouro a partir de produtos como chás, beterraba ou bagaço de uva (leia a matéria em http://bit.ly/rajender). Para isso, bastaria manipular prótons para construir o metal no nível atômico.
A ciência pode até chegar lá num futuro próximo. Resta saber se o ouro terá valor quando for tão comum como uma beterraba que qualquer um pode comprar na quitanda da esquina. Assim, a procura pela pedra filosofal vai continuar indefinida, para que outra riqueza possa ser produzida.
Talvez a solução para o dilema dos séculos seja resgatar o entendimento mais simbólico da alquimia. Alguns estudiosos dizem que a transmutação dos metais ordinários em ouro nada mais seria que uma metáfora para a busca de cada um pela perfeição; da mudança que o homem comum deve empreender para se tornar nobre e raro. Isso se dá por meio de algo que sobrevive ao tempo, o conhecimento – ou, figurativamente, a pedra dos filósofos.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Pesquisador vive dias de alquimista

RAFAELA BORTOLIN

Indiano radicado nos EUA transforma vinho, chás, açúcar e suco de beterraba em ouro, prata ou paládio


Hugo Harada/Gazeta do Povo / Rajender Varma faz pesquisas na área de Química Verde e busca soluções na nanotecnologia
Rajender Varma faz pesquisas na área de Química Verde
e busca soluções na nanotecnologia

Imagine misturar vinho tinto com sais de ferro e cobre e, no fim da experiência, obter ouro, prata ou paládio, um metal caro usado em grande escala na indústria e na produção de ouro branco. Agora estenda a experiência e tente a mesma coisa com chás, extrato de plantas, açúcar, suco de beterraba, vitaminas e o bagaço resultante das uvas após o processamento para produção de vinho e tenha o mesmo resultado. Impressionante, não?
Experimentos
Estudos avaliam os benefícios do uso do micro-ondas
Além do uso de nanopartículas, o professor Rajender Varma também participa de estudos sobre os benefícios do uso de micro-ondas para experiências científicas. “Conhecendo as moléculas e a forma como elas se organizam e reagem, comecei a fazer experimentos usando um forno de micro-ondas daqueles de cozinha. Hoje, claro, sabemos que isso não é seguro, mas foi o pontapé inicial para uma série de descobertas interessantes.”
Segundo ele, a experiência é aplicável em muitos contextos, mas um caso clássico é o da purificação da água sem reagentes, mas usando apenas micro-ondas. “Usado em larga escala, é uma forma de despoluir rios e espaços com grandes quantidades de água exigindo menos recursos e de maneira mais sustentável.”
Nanotecnologia é a revolução do século 21
“Nanotecnologia é a revolução do século 21”. É assim, de maneira incisiva, que o professor Varma explica a importância dos estudos em nanotecnologia atualmente. Segundo ele, assim como os teares a vapor e as ferrovias foram cruciais para o período da Revolução Industrial, o desenvolvimento dos computadores e o início dos estudos em nanotecnologia são o foco de uma nova revolução.
“Basta pensar que, há algumas décadas, o primeiro com­­­putador ocupava a área de uma casa inteira. Hoje, tudo aquilo e muitos outros recursos inimagináveis naquela época cabem dentro de um smartphone menor que a palma da minha mão. As coi­­sas estão ficando cada vez me­­no­­­res e mais práticas e isso mos­­tra como a nanotecnologia ainda tende a prosperar muito.”
Os números comprovam a evolução. Em 2001, a Fundação Nacional da Ciência (NSF, na sigla em inglês), agência americana que incentiva a pesquisa em ciência e engenharia nos Estados Unidos, tinha um orçamento de US$ 150 milhões para projetos em nanotecnologia. Em 2005, o órgão fez um pedido ao governo americano para que esse número saltasse para US$ 205 milhões. Outras áreas de interesse do país, como saúde, energia e agricultura, também dobraram seus investimentos na área no mesmo período.
Usos
Hoje, a nanotecnologia é usada em ambientes variados, indo desde a medicina, agri­­cultura e a eletrônica até a produção de sensores e na indústria farmacêutica. “São tantas aplicações que é até di­­fícil citar todas”, comenta Varma.
Para o futuro, o professor Varma acredita que a expecta­tiva é a melhor possível. “Esse trabalho é empolgante porque, a cada processo, mudam as características das substâncias, suas propriedades e usos, então é uma área que nunca para de nos surpreender e desafiar. Esse não é um segmento cujos impactos vamos ver em décadas. É o presente e representa um futuro muito mais próximo que as pessoas podem imaginar.”
O que é?
A nanotecnologia estuda o desenvolvimento de materiais a partir da manipulação de átomos e moléculas. Um novo produto é formado a partir da retirada, adição ou rearranjo de átomos ou moléculas em condições controladas.
Medida
1x10 elevado a -9 é a medida do nanômetro, padrão das pesquisas em nanotecnologia. Um nanômetro é um bilionésio de um metro. Se um nanômetro fosse a medida de uma peça de Lego, um metro corresponderia à circunferência da Terra.
Pois o pesquisador da Agência Americana de Proteção do Meio Ambiente (EPA, na sigla em inglês) Rajender Varma garante que isso não só é possível, mas plenamente viável e não deve demorar muito para virar realidade no cotidiano das pessoas.
Indiano radicado nos EUA, há 35 anos Varma faz pesquisas na área de Química Verde e trabalha em um desafio daqueles: desenvolver e viabilizar alternativas dentro da nanotecnologia capazes de serem baratas, não serem poluentes e representarem soluções sustentáveis para as demandas da indústria e da população.
O pesquisador passou pelo Paraná na semana passada para participar da 4.ª Conferência Internacional de Química Verde, em Foz do Iguaçu, e realizar uma palestra para os alunos dos cursos de Química, Engenharia Química e Ciências Biológicas da Universidade Federal do Paraná (UFPR) em Curitiba.
Segundo ele, o principal benefício dos experimentos de nanotecnologia – entre eles, os de obtenção de ouro, prata e paládio – está em criar uma lógica de produção que seja cada vez mais consciente. “Ao adotar a nanotecnologia, deixamos de lado os químicos agressivos e caros utilizados hoje e esses metais passam a ser produzidos a um preço menor e com menos impacto ambiental.”
Cheio de novas ideias, atualmente o professor também trabalha em pesquisas utilizando materiais que não são usados na alimentação humana para desenvolvimento de metais sem impactar na produção de alimentos. O principal representante dessa classe é o sorgo, um grão resistente e mais barato que o milho e o trigo, usado como ração para criação de frangos e porcos.
Restrições
Por enquanto, uma das restrições colocadas pelos críticos da nanotecnologia é que, devido ao tamanho muito reduzido dos materiais utilizados, não há uma tecnologia capaz de contê-los para que não caiam no ar e, dependendo de sua composição, poluam o ambiente. De olho nisso, o professor Varma desenvolveu um estudo no qual nanopartículas foram separadas por magnetismo.
“Magnetizadas, essas partículas podem ser facilmente localizadas e reunidas com o uso de imã. Se você pensar, é possível purificar um copo de água usando essa técnica, então imagine o impacto econômico e ambiental positivo que isso teria para limpar um rio, por exemplo.”
Interesse pela ciência
O professor descarta a ideia de ser um revolucionário, já que, para ele, optar por essa noção de Química Verde e reutilização de resíduos na produção de novos materiais não se trata de uma inovação. “Pelo contrário, é a coisa mais antiga do mundo. A natureza mantém um ciclo próprio em que as coisas são produzidas, cumprem sua função, morrem e são reaproveitadas, dando origem a novas coisas, que reiniciam esse ciclo. O que faço é copiar essa fórmula de sucesso e utilizá-la na ciência.”
Todos os estudos, segundo Varma, servem para mostrar que aquela história de que a ciência é chata e inacessível não passa de lenda. “Ciência pode sim ser legal e ser praticada no dia a dia. Quando falo de minhas pesquisas, é comum prender a atenção das pessoas e, mesmo que não atinja a todos, se ajudar alguns a serem melhores, minha missão no mundo já está completa.”







Fonte: Gazeta do Povo