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sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Nanotecnologia e Sociedade: um desafio para todos nós

Será que a nanotecnologia inevitavelmente gerará a insegurança trazida pelos organismos geneticamente modificados?

Por Paulo Roberto Martins*
Nanotecnologia e Sociedade: um desafio para todos nós

A nanotecnologia está sendo apontada como a fonte de uma possível 5ª Revolução Industrial. Também denominada tecnologia atômica, refere-se a uma gama de novas tecnologias que operam em nano escala, o que equivale a uma bilionésima parte de um metro. Isto certamente significará um forte impacto nas sociedades desenvolvidas e em desenvolvimento, bem como, no planeta que habitamos.

A introdução e disseminação de uma nova tecnologia sempre carregam benefícios e riscos para a sociedade. Nesse sentido a nanotecnologia não está acima das críticas. Entre as diversas incertezas sobre esta tecnologia podemos apontar a toxicidade das partículas nano e a ausência de uma regulação específica para tratar de possíveis riscos advindos dessas descobertas.

A nanotecnologia suscita questões éticas que também foram levantadas quando do surgimento e disseminação da biotecnologia. (De acordo com a Convenção sobre Diversidade Biológica da ONU, a biotecnologia é definida pelo uso de conhecimentos sobre os processos biológicos e sobre as propriedades dos seres vivos, com o fim de resolver problemas e criar produtos).  Assim, a questão que se coloca é se poderemos lidar com a nanotecnologia de  forma diferente do que ocorreu com a biotecnologia.

Será que a nanotecnologia inevitavelmente gerará a insegurança trazida pelos organismos geneticamente modificados? Será que iremos romper com o ciclo dos transgênicos em termos de propaganda, segredo (falta de transparência), medo e conflito, levando-se em consideração as preocupações sociais e ambientais desde o início?

Vários são os relatórios produzidos neste século por entidades governamentais, como a National Science Foundation (Estados Unidos) e European Commission, ou não governamentais, como Royal Society (Inglaterra), ETCGroup (Canadá) e Renanosoma (Brasil),  que apontam para a necessidade de incorporar, desde o início, pesquisas sobre os impactos sociais, econômicos, ambientais, políticos, éticos, bem como, que investiguem a percepção do público sobre a introdução da nanotecnologia em nossas sociedades.

Mais de 70 entidades nacionais e internacionais, entre elas a Renanosoma, tem lutado – desde janeiro de 2007 - para que a nanotecnologia seja gerida segundo os seguintes princípios: precaução; regulação obrigatória nanoespecífica; proteção a saúde e segurança para o público e trabalhadores; sustentabilidade ambiental; transparência; participação pública; inclusão de amplos impactos; responsabilidade do produtor.

Uma das maiores lições da biotecnologia é que não são somente os riscos atrelados a novas tecnologias é que causam preocupações na população. As controvérsias crescem quando não se permite a participação do público neste processo. A este não é dada a oportunidade de perguntar: para que serve esta tecnologia? Quem será seu proprietário ou irá e apropriar dela? Quem irá se responsabilizar se as coisas não derem certo? Em quem nós podemos confiar? Quem serão os incluídos e os excluídos?

Hoje já é comum ouvirmos a expressão exclusão digital bem como sobre programas governamentais de inclusão digital. Será que no futuro próximo ouviremos falar dos nano excluídos?

Claro que todas estas questões pontuadas acima não devem ser resolvidas exclusivamente pelos técnicos, por aqueles que entendem do assunto, pois não são apenas questões técnicas. Para resolvê-las, o público deve ser envolvido deste o início. Exatamente enquanto a nanotecnologia está dando seus primeiros passos é que se deve começar o debate com o público, colocando todas estas questões na mesa, de forma transparente.

É justamente isto que a Rede Brasileira de Pesquisas em Nanotecnologia, Sociedade e Meio Ambiente vem fazendo ao longo de seus quase 10 anos de existência e cujos trabalhos podem ser vistos no site da rede neste endereço www.nanotecnologiadoavesso.org.

Promovidos pela Rede de Pesquisa em Nanotecnologia, Sociedade e Meio Ambiente (Renanosoma), os nove seminários internacionais já realizados visaram incentivar um debate transdisciplinar, colocando lado a lado químicos, físicos, médicos, biólogos, engenheiros e cientistas sociais, além de engajar toda a sociedade nessa discussão.

Isso inclui não só pesquisadores e dirigentes de órgãos públicos, mas, também, estudantes, representantes de ONGs e sindicatos e qualquer cidadão que queira contribuir para essa reflexão acerca da nanotecnologia.

A nanotecnologia se apresenta como uma revolução tecnológica, que pode ter impacto em todos os setores e grupos sociais. O tema, portanto, suscita muitas perguntas. Qual será o lugar de regiões periféricas no mundo pós-revolução da nanotecnologia?
Esta revolução aprofundará as desigualdades? Ela poderá contribuir para uma maior democratização? As regiões que não participaram da revolução informacional terão uma segunda chance na revolução nano tecnológica? Elas serão apenas consumidoras ou também fabricarão os incríveis produtos que a nanotecnologia promete?
Que impactos econômicos e ambientais esses produtos causarão? Que tipo de intervenção política se fará necessária? 

De 28 a 31 de outubro de 2013 a USP vai receber o X Seminário Internacional Nanotecnologia, Sociedade e Meio Ambiente. Um balanço de 10 anos de nanotecnologia no Brasil será realizado. Venha participar deste evento para incrementar seu conhecimento sobre nanotecnologia. Lembre-se que “ser livre é ser bem informado”.

* Paulo Martins é sociólogo, doutor em Ciências Sociais, fundador e coordenador da Rede Brasileira de Pesquisas em Nanotecnologia, Sociedade e Meio Ambiente – RENANOSOM. É coordenador do projeto “Engajamento Publico em Nanotecnologia”. Também dirige e apresenta o programa de TV pela internet “Nanotecnologia do avesso”. 


Fonte: Pré-Univesp