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quarta-feira, 16 de março de 2016

"Queremos continuar sendo pioneiros" API.nano - Arranjo Promotor de Inovação em Tecnologia de Santa Catarina


O secretário executivo do API.nano, o Arranjo Promotor de Inovação em Tecnologia de Santa Catarina, comenta sobre o crescimento do setor no Estado e e sobre as iniciativas pioneiras do grupo do país

O catarinense Leandro Berti, 36 anos, descobriu o que queria fazer para o resto da vida quando leu uma revista Superinteressante em 1998. No meio daquela edição decisiva ele encontrou uma notícia curta sobre nanotecnologia e que citava o cientista Eric Drexler. A internet no Brasil ainda era discada, mas Berti conseguiu encontrar o e-mail de Drexler e começou a se corresponder com ele. De lá para cá o catarinense de Criciúma nunca desistiu de trabalhar com a ciência que ele e muitos outros acreditam que vai revolucionar o mundo muito mais que a informática.
Hoje Berti atua como secretário executivo do API.nano (Arranjo Promotor de Inovação em Nanotecnologia) que lidera o desenvolvimento do setor em Santa Catarina e que está liderando algumas discussões importantes e pioneiras no país, como a segurança envolvendo as experimentações na área. De acordo com Berti, hoje Santa Catarina concentra o maior número de empresas que investem em nanotecnologia no país. Uma das próximas fronteiras do API.nano é conseguir apoio para estabelecer um Centro de Inovação em Nanotecnologia em Florianópolis. 

O secretário executivo do API.nano morou em Criciúma, sua cidade natal, até os 17 anos. Lá ele estudou em uma escola administrada por freiras antes de fazer o ensino médio no Colégio de Aplicação da Unesc. "A lógica era de liberdade com responsabilidade. Você tinha voz, podia falar, e lá eu desenvolvi melhor o raciocínio e a minha iniciativa. Muitas aulas eram mais debates do que aulas propriamente", recorda. 
Esse espírito independente e de correr atrás dos próprios sonhos fez Berti mudar-se para Florianópolis para fazer a faculdade recém-criada de Engenharia da Computação na Univali. O gosto pela informática veio no ensino médio, quando Berti começou a "brincar com programação" em casa nas horas vagas entre os estudos. Ele começou na faculdade em 1997, quando se despediu das férias. "Comecei a trabalhar nas férias sempre com algo ligado à informática, como fazendo cabeamento de rede e instalação de internet", comenta.
Trabalhando para diversas empresas no período, Berti buscava, com isso, não apenas ter o seu próprio dinheiro, mas também aprender o que ele não tinha como ensinamento na universidade. Um ano depois de estar em Florianópolis, em 1998, é que ele leu aquela notícia na Superinteressante sobre nanotecnologia. "Mandei e-mail para o Eric Drexler naquele mesmo ano e ele me respondeu dizendo 'Olha, realmente não tem nada ainda, vocês estão no começo com a nanotecnologia e aqui nos Estados Unidos nós também'. E foi assim que eu comecei a trocar e-mails com ele, um dos precursores da nanotecnologia", recorda Berti.
Na mesma época o catarinense também descobriu o e-mail de outro precursor nesta área, Ralph Medley, e eles trocaram algumas mensagens. Ao comentar estas trocas de e-mail com um professor da universidade, o mestre disse que Drexler e Medley estavam respondendo "por pena" e que era uma bobagem Berti querer trabalhar com nanotecnologia. "No Brasil, em 1998, não se falava de nanotecnologia. Mas eu fui desenvolvendo e pesquisando por minha conta", explica.


Naquela época Berti tinha claro que mais que trabalhar com nanotecnologia, ele queria trabalhar com nanomedicina. "Algo muito mais avançado e que hoje em dia, ainda, as pessoas estão começando a trabalhar", observa. Procurando um lugar onde pudesse trabalhar com algo próximo disso, Berti descobriu uma equipe na UFSC que estava trabalhando com informática médica. 

Durante quatro anos Berti trabalhou com a equipe da UFSC elaborando softwares de reconhecimento de padrões para a área médica. "Fiz o meu TCC (trabalho de conclusão de curso) em parceria com a Nano Endoluminal de um software que analisava o aneurisma da artéria aorta para então construir uma prótese. Foi legal, bacana, e eu ganhei um prêmio da empresa e fui para a Alemanha", narra.

Por ter sido reconhecido por ter feito o melhor trabalho para a Nano Endoluminal, Berti ganhou a possibilidade de mergulhar durante quatro meses em laboratórios de pesquisa na Alemanha. "Fiquei lá esse tempo e voltei muito desanimado com o Brasil porque aqui as coisas não funcionam. O ônibus não chega no horário e essas coisas. É um choque (voltar)", recorda. 
No retorno para Florianópolis, Berti começou a trabalhar na Ionics, empresa que trabalha com automação. "Em quatro meses eu fui convidado para ser chefe de engenharia. Junto com um colega, tocamos o projeto por um ano, até 2005. Neste período eu também fiz algumas consultorias para outras empresas, mas eu queria mesmo era trabalhar com nanotecnologia", conta.

Inicialmente o engenheiro pensou que já tinha perdido muito tempo, mas pesquisando a respeito ele descobriu que estavam estudando nanomedicina em New Castle, na Inglaterra. "Larguei tudo no Brasil e me joguei para a Inglaterra sem ter o mestrado aprovado. Não conhecia uma viva alma por lá, fui para um lugar que eu não conhecia e comi o pão que o diabo amassou. Trabalhei vendendo sanduíche e fiz várias coisas para me manter lá e encher os professores até que eles me aprovassem", recorda.

Eles aprovaram Berti para o mestrado, mas lhe disseram que a apenas a inscrição lhe custaria 16 mil libras - uma pequena fortuna que ele não tinha para pagar. Algo positivo daquela fase foi a participação do catarinense em diversos eventos sobre nanotecnologia - afinal o sonho dele não estava tão distante. "Foi muito bom o aprendizado e eu decidi que eu iria tentar estudar em outro lugar e que iria conseguir. Passei um ano de dificuldade, me inscrevi em várias empresas e até passei fome, até que me inscrevi em uma oportunidade do Google", explica.

Depois de diversas etapas de testes, Berti passou na seleção da gigante de tecnologia, mas acabou desistindo da vaga porque ele teria que se mudar para a Irlanda. Na sequência ele encontrou o nome do professor Schaefer e foi procurá-lo com um currículo e uma carta de apresentação dizendo que queria trabalhar com nanotecnologia. O professor ficou impressionado com as pesquisas que Berti já tinha feito até aquele momento e prometeu dar uma resposta para ele em um mês.

Passado esse período, o catarinense recebe um e-mail de Schaefer dizendo que ele deveria passar na secretaria para fazer a inscrição para um doutorado que seria dividido entre os departamentos de Química e Física e que estava todo pago. "Comecei o doutorado como bolsista do Conselho de Pesquisa de Engenharia e Ciências Físicas da Inglaterra e mais o departamento de Química no final de 2006", conta.

O catarinense, orientado por Anthony Ryan e por Richard Jones, desenvolveu junto com eles uma teoria de como se movimenta um nanomotor em nanoescala. "Nos baseamos em como uma bactéria se movimenta e modelando tudo isso com matemática e física avançada. Com isso descobrimos como se modelar um nanorobô de verdade", explica. Em 2010 Berti acabou o doutorado e voltou para o Brasil para ficar próximo da família. 

Nos primeiros anos ele lecionou em diversas universidades particulares de Santa Catarina até que, novamente, sentiu falta em apostar na nanotecnologia. Em 2013 ele participou do segundo simpósio sobre nanotecnologia de Florianópolis, onde seria implantado o API.nano. "Vim para o evento desacreditado, porque eu não tinha conseguido fazer nada na área no Brasil, mas comecei a conversar com as pessoas e fui ouvido", recorda. 

As conversas renderam um convite de trabalho de uma empresa e outro do Senai de Minas Gerais. "Mas o professor (Carlos Alberto) Schneider foi mais rápido e me contatou na sequência pedindo o meu currículo para começarmos o processo (para ser contratado pelo API.nano). E só melhorou desde lá", explica. Depois de ser contratado, Berti teve o nome submetido para os participantes do comitê de gestão que escolheram ele de forma unânime como secretário executivo do projeto. 

Hoje o catarinense fascinado pelo potencial revolucionário da nanotecnologia procura ter uma rotina regrada no API.nano que funciona dentro da Fundação Certi. Normalmente ele chega no local as 8h e sai de lá as 18h, mas sem fugir da sina de quase todo empresário e apaixonado pela própria área de atuação que é trabalhar em casa em alguns finais de semana e horas vagas em dias úteis. Entre uma a três vezes por mês Berti viaja para São Paulo para articular ações com empresas e universidades, além de participar de eventos da área. 

No tempo livre ele gosta de assistir a filmes - Berti se reconhece como um "viciado em cinema" - e, eventualmente, de jogar basquete. Quando morava em Criciúma ele chegou a jogar basquete representando a cidade. Atualmente, contudo, lhe falta uma rotina de exercícios físicos - algo que ele quer resolver em breve. Casado com Fernanda, ele espera com ela o primeiro filho do casal. Entre seus desafios à frente do API.nano está o de fazer a iniciativa manter-se apenas com recursos próprios.

Atualmente quem dá o suporte e o apoio principal para o API.nano é a Fundação Certi. "Às vezes temos algum aporte de projetos através da Fapesc, mas precisamos de mais recursos", complementa. Faz parte desta busca por outras fontes de recursos o trabalho na área de nanosegurança que tem, entre outras possibilidades, articulações internacionais em andamento. "Queremos criar projetos maiores para que o API.nano tenha sustentabilidade em um tempo mais largo. Para isso estamos conversando com a União Europeia e a Alemanha para construir esse projeto guarda-chuva", adianta. Confira, a seguir, a entrevista com o secretário executivo do API.nano feita esta semana na Fundação Certi:

Santa Catarina é o Estado do país com o maior número de empresas que trabalham com nanotecnologia. Como chegamos a esse patamar?
Com bastante trabalho e com bastante esforço. Inicialmente o API.nano começou com 30 membros em 2013, mas rapidamente foi ganhando força. A ideia foi que o API.nano fosse criado só para trabalhar dentro do Tecnópolis, ou seja, da Grande Florianópolis. Mas o sucesso foi tão grande que ele começou a sair do Estado, abarcando empresas que não eram do Estado. Nós tivemos a oportunidade de sediar um evento de porte nacional do governo federal, o mais importante de tecnologia, que foi o "Workshop Nanotecnologias: da ciências ao mundo dos negócios", feito na Fiesc. E, desde lá, o grupo, o cluster, só aumentou. Hoje somos 102 membros no Brasil inteiro, com empresas de vários portes, de multinacionais até empresas de pequeno e grande porte, e associações empresariais, como a Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção) e a Abrafas (Associação Brasileira de Produtores de Fibras Artificiais e Sintéticas). Conseguimos movimentar bastante em pouco tempo, o que é bastante gratificante, porque a gente tenta fazer com que o governo acelere o processo mas a gente consegue acelerar mais rápido, como somos privados e não temos essas amarras, conseguimos desenvolver.

Destas 102 empresas e entidades afiliadas, quantas são de Santa Catarina? E que cidades do Estado teriam mais desenvolvida a nanotecnologia?
Das 90 empresas do Brasil, 40 fazem parte do API.nano. Destas, 26 estão em Santa Catarina e a maioria está concentrada em Florianópolis. Temos empresas importantes em Joinville, como a Ciser e outra empresa que trabalha a parte de odontologia. Tem a BM4, em Palhoça, que trabalha com odonto também. Você tem a Nanovetores, aqui em Florianópolis, que trabalha com a parte de cosméticos e que é muito conhecida também. Você tem a TNS que trabalha com antimicrobianos e que é muito conhecida e é de Florianópolis. Você tem empresas usuárias, como a Malwee, que trabalha junto com a Nanovetores. Você tem a Coteminas. No Brasil você tem também o Grupo Solvay, que é a Rhodia, que participa do API.nano também. Aqui você tem a Cetarch, em Criciúma, que trabalha com cerâmica e vende essa nanocerâmica para a Vale, Votorantim e Anglo American. Tem vários setores, mas a grande concentração fica em Florianópolis mesmo.

Como vocês conseguiram crescer tão rápido nas afiliações ao API.nano e por que o crescimento da nanotecnologia como setor em Santa Catarina e no país?
O que faz crescer a nanotecnologia é, à princípio, a curiosidade. Como isso funciona? E aí depois você vê que o resultado é tão surpreendente, é tão expressivo, que você vai conseguir vender um produto de melhor qualidade e diferenciado do teu concorrente. Então ela realmente serve como uma ferramenta para se distanciar do concorrente. São vários exemplos, mas vou te dar um: a TNS recentemente fez um produto que incorpora os agentes antimicrobirianos nas panelas da Oxford. Então uma panela da Oxford vai vender diferente das panelas das que não tem antimicrobirianos. Você tem a Nanovetores que faz N tipos de insumos com nanotecnologia e faz uma roupa para a Malwee que dá mais conforto na hora do exercício físico. Os resultados são muito surpreendentes e expressivos realmente. Uma outra faceta disto é que Santa Catarina tem um programa muito importante para o surgimento de novas empresas e que está contribuindo bastante que o Sinapse da Inovação.

Qual é o maior efeito do Sinapse da Inovação para o setor?
Esse (programa) está trazendo outras empresas de nanotecnologia. Dele nasceu a Nano Scoping, que faz parte do API.nano, que trabalha com fragrâncias, ou seja, liberação de fragrâncias de forma controlada usando polímeros biodegradáveis e outras matrizes de materiais. É um pessoal que está fazendo um negócio diferente e está contribuindo cada vez mais para esse setor. Não posso deixar de falar de outras empresas que temos aqui, que são recentes e que estão tentando começar, como a ADNano, que está trabalhando para desenvolver amortecedores inteligentes. Então você tem várias vertentes e a nanotecnologia é muito transversal, então uma empresa que trabalha com antimicrobiano pode trabalhar com detecção de bactéria, com tratamento de efluentes, então você consegue aplicar em diversos fatores. Essa é a mágica da nanotecnologia, porque ela é muito adaptável.

Toda empresa que pensa de que forma ela poderia usar a nanotecnologia deve se perguntar o quanto isso custa. Apesar do uso variável desta tecnologia, é possível estimar o custo dela? Em quanto tempo se consegue um retorno?
Olha, não tanto quanto se imaginaria. Vou dar dois exemplos, da TNS e da Nanovetores. Eles conseguiram desenvolver um produto novo em seis meses. Não é um tempo muito longo. E o custo também não é muito alto. Mas para montar uma empresa de nanotecnologia o que é caro é equipamento e laboratório. Isso é caro. Essa é a maior barreira para quem está querendo empreender em nanotecnologia, é ter o espaço e os recursos necessários para poder trabalhar. Você pode utilizar instalações da universidade mas, por exemplo... vamos pegar o exemplo da Ciser.

Mas utilizar a infraestrutura da universidade não é complicado porque o espaço é compartilhado para aulas e outras atividades?
Exato. Você tem essa concorrência. Acelera o processo se você tem um negócio próprio. Vou te dar um exemplo de custo. A Ciser tem um produto que ela passa nos parafusos que permite que ele não enferruje. Esse produto vai custar R$ 0,10 a cada 100 quilos, por exemplo. Depende muito da aplicação, mas é nesse nível. Nem sempre é proibitivo e muitas vezes não é.

O investimento inicial, então, é que é a principal barreira para novas empresas de nanotecnologia?
Quem paga a conta, na realidade, é o empreendedor, porque é ele que tem que desembolsar muito mais recurso para poder chegar neste nível que eu estou falando. Então a TNS vai fazer um produto que ela consegue rapidamente integrar na solução do cliente porque ela já tem uma plataforma de conhecimento, de desenvolvimento e é algo que evolui rápido. Porque você ter um produto e desenvolver para outro é mais rápido. Mas você chegar ao nível em que chegaram a TNS e a Nanovetores requer muito investimento. E é isso que a gente bate na tecla e continua solicitando para o governo que olhe para isso com carinho, invista nisso de verdade porque a gente precisa desse recurso para poder transformar estas empresas, estas startups, ou pelo menos iniciar esse desenvolvimento com maior vigorosidade. Porque a gente realmente precisa destes recursos. É um período aonde você ainda não produz mas está desenvolvendo a tecnologia que vai ser um grande diferencial. Então a nanotecnologia tem um aspecto diferenciado das outras empresas. Por exemplo, fazendo uma comparação rápida, o pessoal que trabalha com informática com um computador e uma salinha está tranquilo, resolve todo o problema dele. A nanotecnologia não pode, não dá para fazer isso porque trabalha com materiais, trabalha com materiais a nível subcelular, submolecular, então é uma coisa que você tem que ter capacidade para fazer isso. Se você não tem a capacidade você não consegue sair do chão.

Não ajudaria a resolver esse problema uma incubadora ou um espaço de uso compartilhado de laboratórios e equipamentos para uso de um grupo de startups?
Sem dúvida. E é o nosso pensamento, na realidade. Nós temos o planejamento de criar um centro de inovação em nanotecnologia que ele suporte em questões que são complementares ao que a universidade já faz. Então temos essa ideia de criar um centro de inovação no Sapiens Parque para dar suporte a estas empresas tanto na questão de nanosegurança, que é um dos tópicos que a gente está trabalhando bastante, como no escalonamento da produção, ou seja, você pega um produto em laboratório, que está em uma condição muito incipiente ainda, e você transforma em um produto em larga escala. E tem também a questão do meio ambiente, de análise de risco, todas estas questões estarão ligadas neste centro. Então isso a gente pretende fazer desta forma, ajudar estas empresas a conseguir decolar.

E ao redor desta estrutura seria fomentado um grupo de novas empresas?
Teria um grupo de empresas. O formato de como vai ser constituído a gente ainda não tem. Como quem vai ser patrocinador, isso não definimos ainda.

Em que fase está este projeto? Está bem na fase embrionária ou vocês já tem uma data para ele se tornar realidade?
Está na fase conceitual. Mas a ideia é que ele abrigue também uma incubadora, que abrigue o API.nano como uma rede, porque ele é uma rede, um cluster, e que abrigue todas estas iniciativas de nanotecnologia para conseguir desenvolver melhor isso tanto em Santa Catarina como no Brasil. O que a gente vem enxergando é que o API.nano vem se destacando. Hoje no Brasil ninguém mais além de nós está trabalhando com nanosegurança, por exemplo, então estamos sendo pioneiros e trabalhando para conseguir alcançar cada vez mais esse status de pioneirismo.

Existe alguma perspectiva de tornar realidade esse projeto agora em fase conceitual?
Ainda não. Nós temos um prazo de cinco anos e estamos articulando com governo federal e o governo estadual. Nós estamos conversando e vem sensibilizando as autoridades para que eles enxerguem isso como um potencial e um diferencial para Santa Catarina e que vai trazer um crescimento industrial muito importante para o Estado e para o Brasil.

Desde que o API.nano, o Arranjo Promotor de Inovação em Nanotecnologia foi criado, quais foram as principais conquistas desta iniciativa?
Primeiro esse espaço de nos tornarmos uma referência no Brasil. Nós hoje... vários eventos no Brasil e várias oportunidades estão surgindo para a gente divulgar cada vez mais o API.nano. Nós fomos convidados, no ano passado, para organizar um painel de novos materiais de nanotecnologia dentro da SAE Brasil, uma sociedade grande de engenheiros automotivos, bastante conservadora no aspecto de indústria, e abriu essa oportunidade para a gente falar. Foi bacana, tão bom e tão bem recebido que o diretor geral e o presidente da SAE nos convidaram para participar do comitê de novos materiais recém criado. Então abrimos uma frente muito importante em um dos setores que mais contribui para a economia brasileira, que responde por em torno de 22% do PIB nacional. Então a gente vem conquistando esse espaço, o que é muito importante, e nós ajudamos, no ano passado, o pessoal da feira a fazer o evento.

Qual foi o envolvimento de vocês para que a feira fosse realizada?
Então não fizemos a feira propriamente dita, mas ajudamos nos bastidores levando gente, incentivando os próprios idealizadores a ponto de dizer que ia dar certo, que valia fazer. “Ah, mas não temos empresas suficientes”, eles disseram, e nós dissemos que tínhamos sim. Chegou ao ponto de, quando chegou a feira, e teve um apoio muito bacana e generoso da CVMM, que nos concedeu patrocínio para construir o estande, porque o API.nano não tem recurso próprio, tem apenas apoio da Fundação Certi, mas não tem um fluxo de caixa, conseguimos que 80% da feira, dos empresários, eram do API.nano. Então realmente marcamos presença. Isso foi em São Paulo e a maioria era do API.nano. E aqueles que não eram do API.nano começaram, na feira, a pedir para participar. Então foi muito bacana e uma satisfação, uma conquista, ter essa possibilidade de chegar na primeira feira nacional e ter 80% dos membros do API.nano.

Isso mostra a força de vocês, até porque ninguém mais está fazendo esse trabalho no país, não é mesmo?
Exatamente. O que acontece hoje é que você tem muita iniciativa na área de pesquisa. E cada um tem que fazer aquilo em que é melhor, na realidade. Então damos todo o apoio para o pessoal da pesquisa, como na UFSC você tem o CIS.nano, laboratório de pesquisa que faz parte deste grupo e eles fazem pesquisa. E nós incentivamos eles a fazer pesquisa. Só que o nosso negócio é desenvolvimento industrial. Tanto é que estamos sendo reconhecidos que o secretário de inovação do MDIC em 2013, quem estava lá era o (Nelson) Fujimoto, ele declarou na reunião que tivemos que o API.nano é o modelo para o desenvolvimento industrial da nanotecnologia no Brasil. Então conseguir um respeito deste de um ministério já é muito importante.
Quais são as áreas de pesquisa e os segmentos aonde a nanotecnologia está avançando mais no Brasil e em Santa Catarina?
No Brasil nós estamos vivendo ainda a questão de que a gente não desenvolve tanto nanosensores. A nanotecnologia tem vários estágios. Você trabalha com materiais primeiro, depois com dispositivos e finalmente com máquinas. É uma evolução natural. Hoje o Brasil trabalha muito com nanopartículas e nanomateriais. Está muito neste quesito. É a parte inicial. Então hoje a Nanovetores trabalha com nanopartículas, TNS também, a BM4 trabalha com nanomaterias, nanopartículas. Você tem a Ciser, que trabalha com coating, que são revestimentos. O segundo estágio seria nanodispositivos, que são um pouco mais avançados, como nariz eletrônico, sensores diversos, já começa a entrar em uma questão de mobilidade em escala que não é uma coisa que está sendo vista no Brasil ainda.

Este segundo estágio, imagino, que envolva integração de soluções, não?
Sim, com certeza. Você tem um conjunto, porque você depende da característica de um material e da funcionalidade dele em escala para ser nano de fato. Então a gente ainda está caminhando. Não temos empresas no país que estejam indo para esse segundo estágio. Mas existem iniciativas de empresas tentando chegar em um ponto de integrar isso (nanopartículas) com máquinas, que não são dispositivos ainda, mas é um estágio um pouquinho mais avançado do que apenas a questão das nanopartículas. Mas se você comparar com hoje no mundo, você tem no mundo exemplos como a de uma pessoa em Israel que desenvolveu nanorobôs que entregam drogas para tratamento de câncer em ordem específica. Ou seja, você tem várias drogas dentro de um nanorobô, que é muito mais parecido com bactéria do que com nanorobô de fato, é feito com DNA inclusive, e ele abre a comporta de acordo com o estímulo externo que tem aonde está o câncer. Ele já testou em rato e o cara conseguiu contrato com a Pfizer para fazer esse medicamento.

Que outros exemplos são inspiradores nesta área?
Você tem na Holanda um pessoal que desenvolveu uma nanopílula que você engole e vai captando informações do DNA da pessoa e passa no celular as informações que você tem de doença no DNA. Esse é o tipo de estágio de desenvolvimento fora do Brasil, mas a gente também tem capacidade de fazer isso no Brasil. Por exemplo, saiu outra reportagem que o Japão desenvolveu alumínio transparente com nanopartículas. Você tem uma empresa em Santa Catarina em Criciúma, por exemplo, que tem capacidade de desenvolver esse material. Eles só não conseguem desenvolver esse material ainda por que? Porque eles não tem o ferramental e o equipamento necessário. É um forno diferente, algumas questões que a gente não consegue ter tanto acesso como eles tem lá fora. Mas nós temos a capacidade de fazer isso no Brasil. Isso que é o importante. Que a gente tenha essa capacidade, só que a gente precisa de mais incentivo. Mais um empurrãozinho.

Um dos objetivo do API.nano é aproximar as pesquisas feitas nas universidades do mercado. Em termos de pesquisa também estamos na primeira fase?
Em pesquisa sim. Você tem pessoas no Brasil desenvolvendo nanosensores, nanoeletrônico... se não me engano foi a Embrapa que começou a desenvolver alguma coisa a respeito disso. Você tem pessoas mexendo na molécula de placas fotovoltaicas, como o laboratório aqui do professor Rambo que desenvolve a molécula. Ele trabalha na molécula pela ela absorver melhor a energia solar para depois isso virar um material, um filme como o desenvolvido pela 3M com nanopartículas. Mas para isso a molécula tem que estar otimizada a ponto de coletar a luz de forma inteligente. Você tem isso, assim como tem gente trabalhando com OLED, com grafeno... vimos agora a instalação do Centro de Pesquisa Nacional de Grafeno na Mackenzie, em São Paulo, que foi inaugurado na semana passada e que visa o desenvolvimento de baterias, células combustível com grafeno e muitas outras coisas, então é algo bastante interessante. É parceria, se não me engano, com o pessoal de Manchester para desenvolver grafena no Brasil. Então existem iniciativas, mas elas são pesquisas. Vai levar um tempo ainda para chegar no mercado.

Com o Real desvalorizado e com o potencial de crescimento do Brasil a longo prazo muitos estrangeiros estão olhando mais para o nosso país e para Santa Catarina. Em que áreas da nanotecnologia poderíamos atrair mais investimentos?
Olha, temos várias opções. A Nanovetores já deve estar comercializando para mais de 18 países. A TNS ainda não se internacionalizou, mas está a caminho de fazer isso. Então, realmente, a nossa tecnologia está barata para o pessoal de fora. A área de cosméticos, por exemplo, é bastante promissora porque o Brasil é um grande consumidor de cosméticos. Isso é bastante interessante, assim como alimentos com nanotecnologia, como os funcionais com nanotecnologia. Existe até um movimento de iniciativa de empresa de fora de Santa Catarina querendo trabalhar em empresas catarinenses para desenvolver isso. Existe uma conversa para isso que está em andamento. Há também a questão de antimicrobirianos, que a TNS tão bem integra em vários produtos, como isopor, plásticos, areia de gato para identificar se o animal está tendo infecção ou não... tem o segmento de medicina veterinária, que é uma outra vertente que está surgindo e é bastante bacana. Tem o começo de iniciativas para trabalhar com controle, por exemplo, da prenhez da égua, com um controle melhor de natalidade destes animais. Está iniciando agora. Você tem a questão do setor automotivo. 

O que está sendo desenvolvido no setor automotivo e que pode interessar a investidores?
Posso falar particularmente (disso) porque é uma startup que nós temos e que estamos tentando conseguir investimento para desenvolver fluídos inteligentes, com os quais você consegue melhor controle de amortecimento, você consegue aplicar isso também na área de energia, melhorando em 30% a questão do uso da energia no transformador, por exemplo, então você vai ter uma economia muito superior do que o transformador que você utiliza hoje. E você não vai, por exemplo, se eu começar a utilizar sistemas mais energeticamente eficientes, construir uma outra Belo Monte ou uma outra Itaipu. Usando de forma mais inteligente os recursos que a gente tem utilizando a nanotecnologia. A gente é capaz e consegue fazer isso. Como a Ciser com os parafusos querendo desenvolver outras soluções. Então é um ecossistema, na verdade. Os países de fora, como na área têxtil, é muito importante no Brasil também, conseguimos levar um pesquisador da rede para trabalhar com o pessoal nos Estados Unidos no expoente na área têxtil com nanotecnologia com células-combustível. Com essa capilaridade você pode trazer tanto Alemanha, França, Holanda que é um parceiro bastante interessante... a Holanda tem um desenvolvimento muito interessante na área de nanosegurança. É o país que coordena a nanosegurança no mundo, um dos maiores. Holanda é interessante, assim como Dinamarca, onde a gente já identificou um pessoal que trabalha muito forte nessa área de nanosegurança.

Essas conversas com outros países já começaram ou ainda é preciso uma aproximação maior?
Precisa ainda uma aproximação maior, mas com alguns países nós já conversamos. Algumas foram oportunidades que tivemos durante a feira de nanotecnologia. Foi muito importante esse evento porque ele trouxe as atenções para Santa Catarina. Tem empresas do API.nano, por exemplo, que jamais teriam acesso a uma empresa de papel e lá tiveram contato com três empresas de papel e conseguiram fechar negócio na feira. Então foi uma oportunidade legal principalmente para aqueles que estão iniciando ter aquele empurrãozinho inicial. Tivemos interesse não só de fora, mas também da Petrobras em trabalhar com empresas de nanotecnologia de Santa Catarina. A própria CBMM (Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração) teve interesse de trabalhar com empresas daqui.

Como está essa conversa com a CBMM?
A gente está para organizar um evento para fazer um tipo de brainstorm com a própria CBMM para saber no que mais podemos utilizar terras raras, um dos elementos mais raros, mas que a CBMM tem completo controle. Eles tem 98% de todo o nióbio do planeta e o resíduo disso são as terras raras. Então a gente está conversando porque você pode fazer várias coisas com isso. Ano passado veio o pessoal da Alemanha com a questão do laser, por exemplo, do Berlin Partner... e você pode utilizar terras raras e crescer cristais para laser para a Alemanha, por exemplo. Por que não? Você pode usar marcadores para a área biológica, tem várias áreas que podem ser beneficiadas. Como a biológica, de medicina veterinária, de odonto, de cosméticos, de saúde pessoal, a parte de proteger o ambiente de germes e bactérias... então isso tudo está bem disponível, é só questão dos países virem para cá e começarem a negociar e a fazer arranjos mais robustos para desenvolver estas coisas. Como eu te falei, fora do Brasil temos acesso a equipamentos melhores, a estruturas maiores e as pesquisas estão rodando há mais tempo. Então aquilo para evoluir para produto é muito mais rápido. Mas aqui nós fazemos o nosso dever de casa muito bem, o que é importante.

Um dos objetivos centrais do API.nano é aproximar as empresas das universidades e vice-versa. O quanto se avançou nesse sentido e o que falta fazer para avançar mais?
Olha, hoje nós temos, participando do API.nano, UFSC, UDESC, UNESC, Unisul, IFSC, Unioeste, temos algumas universidades participando. Obviamente a gente precisaria de mais interesse não só das universidades, mas que a gente tivesse um apoio maior do governo para que essa aproximação fosse feita. Mesmo porque é gratuito, não cobramos nada para os outros participarem. Isso é uma coisa que vai crescendo de boca a boca mesmo, não tem outra forma. Temos todo o cuidado, toda a preocupação de quando faz um evento pegar todo esse pessoal para participar para apresentar a informação, o que eles estão fazendo, aproximar as empresas dos pesquisadores, fazemos todo esse benchmark. Fazemos aproximação não só de pesquisador com as empresas mas das empresas com outras empresas.

Em algumas áreas os pesquisadores tem um pouco mais de resistência de “servir” o mercado. Os pesquisadores de nanotecnologia estão abertos, inclusive, a receber sugestões das empresas?
O que eu posso falar é que em Santa Catarina o pessoal que participa do API.nano estão muito mais inclinados a desenvolver pesquisa para chegar em um produto do que outras pessoas com quem eu já tive contato fora do Estado. Eles estão mais inclinados, eles querem fazer, a gente vai conversar com eles “Olha, queríamos fazer tal coisa”, e eles respondem “Legal, podemos fazer desta forma”. Mas ainda existe essa questão de “eu quero fazer pesquisa”, em virtude das obrigações que eles tem com as universidades e com as instituições em que eles estão lotados. Isso eu acredito que é um pouco a dificuldade que existe ainda e que não é uma resistência, mas é a questão de como funciona o sistema, que não permite que eles trabalhem da forma que eles queiram desenvolver os produtos.

Então o próprio sistema pede que eles façam pesquisas mais teóricas do que aplicáveis no mercado?
Eles têm que entregar artigo, artigo e artigo. E às vezes o cara tem que publicar muito artigo e não tem tempo nem para ele. Isso realmente dificulta o desenvolvimento industrial do negócio. Eles querem contribuir, só que eles estão amarrados com a obrigação que eles têm. Mas do que temos visto, está tendo essa proximidade, eles querem desenvolver e vão atrás. Eles fazem projeto com empresas, desenvolvem partes do projeto, cedem laboratório. Tem essa aproximação e eles querem fazer, mas não tem tanta liberdade assim para fazer porque tem as amarras da própria instituição e que não permitem (isso).

Quais serão as próximas ações e a próxima frente de atuação do API.nano?
Nós nos aproximamos bastante e temos uma parceria muito legal do pessoal da SBMAlt (Sociedade Brasileira de Métodos Alternativos à Experimentação Animal). Então estamos muito preocupados com esta questão de testes de nanomateriais e fazer testes químicos em geral sem animais. Estamos bem próximos deles, que estão nos ajudando nesse projeto de normas e de procedimentos. Vai ser baseado esse projeto, até porque há um bom contato, com a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Nós vamos usar os guias e as orientações da OCDE para trabalhar com o desenvolvimento de nanomateriais, isso é uma coisa que estamos fazendo. E isso a nível mundial. É algo que vai influenciar Santa Catarina, talvez o Brasil, por sermos pioneiros, mas essa questão de utilizar essas normas vai muito além do que o Brasil está desenvolvendo. Nós estamos pegando na fonte e pretendemos fazer o que o mundo pensa, não o que algumas pessoas pensam. Essa é a nossa preocupação.

Vocês estão trabalhando em mais de uma frente nesta questão da segurança do setor, então?
Temos a questão de não utilizar animais, a questão de nanosegurança cada vez mais forte dentro do API.nano, e a questão também de focar mais esforço para conseguir concretizar o Centro de Inovação em Nanotecnologia em Santa Catarina. Esse é um desejo forte nosso e um objetivo que temos e que vamos conseguir. E incentivar cada vez mais o crescimento de novas empresas. Nós temos um planejamento para o fortalecimento da nanotecnologia em Santa Catarina. Dentro deste projeto temos a nanosegurança, a criação de um comitê, de um órgão que vai poder ir até o ponto de validar se o teu produto é seguro ou não para ser vendido. Então provavelmente você vai ganhar um selo ou uma etiqueta para poder garantir que está dentro da norma. Isso vai afugentar os aventureiros que querem se beneficiar destas questões. Isso é importante e vamos conseguir fazer isso. Estamos trabalhando para isso.

Existe alguma previsão para quando vocês conseguiriam estar aptos a dar este tipo de certificação?
Ainda não tenho uma projeção definida, mas é um dos objetivos de estruturar isso até o final deste ano, esta questão de normas e procedimentos, para poder fazer esta questão de certificação. Para isso temos uma parceria bastante integrada com a UDESC, o pessoal do LabGES, o pessoal do professor Carlos De Rolt. Então para você ver que estamos fazendo isso junto com a universidade para tentar trazer isso para dentro da indústria.

Outros países já tem essa certificação para produtos de nanotecnologia?
A gente fez um benchmark no mundo e vimos que Taiwan tem, Tailândia e o Irã tem algo relacionado com nanosegurança. Então esses são os países. Engraçado o Irã, né?

Curioso. E na Europa nenhum país tem essa certificação?
Na Europa não. Eles são muito conservadores nesse aspecto. Sobre a segurança relacionada (com a nanotecnologia) eles até tem, mas o negócio é que não existem normas nacionais ou internacionais que definem isso. Agora está nascendo isso. Certificação ainda ninguém tem. O pessoal da Dinamarca tem a base de dados de produtos com nanotecnologia dos quais ele coloca então informações sobre toxicidade. É uma base grande que eles têm e já está bastante avançada, inclusive lançaram um relatório este ano, faz pouco tempo, em que produtos convencionais como negro de fumo, que é a fuligem que se usa hoje no pneu, são nanopartículas de carbono e outros materiais nano, isso não tem impacto nenhum no meio ambiente. O que é produzido, o que é utilizado... eles mediram o esgoto, a água e vários outros aspectos e encontraram uma concentração muito abaixo do que poderia ser um problema. Então eles fizeram um relatório enorme a respeito da ausência de impacto ambiental dessas nanopartículas em especial para o meio ambiente. Eles estão trabalhando muito firme nisso, mas ainda não tem essa certificação.

Sendo assim, seríamos um dos primeiros a adotar uma certificação como esta?
Sim, seríamos o quarto país no mundo. É assim que queremos continuar sendo pioneiros. Estamos fazendo isso de forma privada, sem apoio do governo, até porque queremos dar garantia para aqueles que estão conosco. A gente não pode garantir para aqueles que não estão conosco. Então vamos trabalhar, dentro do nosso ambiente, para a garantia da segurança, da sustentabilidade e da responsabilidade daquilo que se faz dentro do nosso ambiente. É com isso que nos preocupamos bastante. Essas são as nossas próximas metas.

Vocês lançaram, no ano passado, um livro pioneiro sobre nanotecnologia no país. Ele começará a ser vendido este ano. Qual é a expectativa para ele?
A editora que pegou esse projeto é a Cengage Learning, a mesma editora que faz os livros da National Geographic, por isso esperamos uma boa divulgação desse livro. Pelo nome da editora e pelo histórico dela. O pessoal foi muito profissional e trabalhou bastante. Eles tem um carinho enorme pelo livro porque eles falaram “Olha, é um projeto especial e de tamanha relevância que nós não tínhamos visto um trabalho como esse até hoje no Brasil”. Eles esperam um bom resultado de vendas para o livro.

Vocês já tem a data exata de quando ele será lançado por essa editora?
Não ainda, mas a expectativa é que ele saia ainda em março. Esse mês ainda. Eles apresentaram o livro para várias pessoas do Brasil porque é sempre feita uma avaliação sem saber quem é o autor e ele foi muito bem avaliado. O pessoal gostou muito, mesmo porque ele fala o aonde você encontra a nanotecnologia na Natureza, como que você mede (ela), quais são as propriedades físico e químicas, biológicas dos nanomateriais, como você mede essas características e propriedades, como você produz nanomateriais de diversas maneiras e diversos métodos, quais os equipamentos que você usa para fazer a mensuração, como é que você alia a questão de exposição... no caso você está exposto ao material e como você relaciona isso com a exposição ao perigo e ao risco, como é que você avalia risco, segurança e como você pode usar esse livro que é um guia de boas práticas para definir um processo seguro para trabalhar com nanomateriais utilizando todos esses indicadores. Então você pode criar.

Esse livro é quase um manual para quem quer empreender em nanotecnologia, não?
Ele é um livro realmente para quem trabalha com nanotecnologia e vai usá-lo diariamente, é para quem estuda, para os nossos governantes entenderem melhor da onde vem a nanotecnologia e porque da nanotecnologia, quais os benefícios dela, e servir como uma ferramenta para um marco legal em nanotecnologia no país. Porque você lá tem ferramentas de análise de risco que são primordiais para se criar políticas públicas, então você consegue ter um número, um índice, um valor para saber se dentro de um certo enquadramento o produto é seguro, inclusive para a questão da certificação. Essa é a nossa preocupação. Então o livro é bastante completo nesse aspecto. Ele vai servir para educar as pessoas que estão vindo nas pós-graduações, das graduações, espero que seja um grande sucesso nesse sentido, porque o objetivo de escrever esse livro foi muito mais de educar. Hoje você fala muito de nanotecnologia no mundo, você digita “nanorobô” no Google e aparece um monte de coisa que não tem nada a ver com nanotecnologia.

Há muito interesse sobre o assunto mas pouca informação confiável a respeito de nanotecnologia.
Exatamente. E você vê muitos conceitos errados e que não fazem parte da nanotecnologia. Então nós temos que desmistificar e quebrar esses conceitos. O livro vem no sentido de dar informação fidedigna para quem está interessado no tema.

Existe alguma expectativa para levar esta obra para o mercado internacional, quem sabe publicando em outros países, já que é uma obra de referência?
Não temos expectativa para levar para fora, mas eu já apresentei o livro para pessoas há um tempo para diretores de empresas de nanotecnologia fora do país e até pessoas que fazem parte do conselho de normas internacionais e eles adoraram o livro. Eles inclusive podem até participar de uma futura versão que seria em inglês. Temos todo o interesse de publicar em outras línguas, com certeza. 

Fonte: Notícias do Dia

quinta-feira, 3 de março de 2016

O Brasil na contramão da história: NanoINVESTIMENTO


Por decisão governamental, chegará a 50% os cortes em investimentos em Nanotecnologia (CT&I


No começo desta última crise econômica mundial, o presidente Obama dos EUA declarou, e repetiu recentemente, que a saída para os EUA seria pela inovação, pela pesquisa, pela ciência e tecnologia. A Inglaterra optou pela mesma solução, não reduziria investimentos em pesquisas. Também o Japão e a Coreia do Sul acentuaram seus apoios à ciência e à tecnologia. A China, com a redução de suas taxas de crescimento e perspectivas pouco otimistas para o futuro próximo, acaba de anunciar que aumentará em 40% o investimento em pesquisas em ciência fundamental e em 35% em ciência aplicada. 

E isso é apenas natural, pois uma das mais importantes razões da perda de mercados, seja no setor agropecuário, seja no industrial, e mesmo na maioria dos setores de serviços, é a falta de competitividade, que só pode ser revertida com pesquisa em ciência e tecnologia. A inovação é hoje uma consequência direta das atividades de pesquisa em ciência pura e aplicada. E a pesquisa exige investimentos.

Pois bem, na contramão da História e do bom senso, ou melhor, do senso comum, o Governo Brasileiro cortou, em 2015, 26% do orçamento do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) para 2016. Neste mesmo ano de 2016, outra redução que leva o corte total a 38%. 

Não fosse suficiente, o Ministério do Planejamento estará propondo mais um corte de 18% ainda para 2016, ou seja, um total de redução de aproximadamente 50% das atividades de pesquisa no Brasil. 

Isto é, contra tudo que a História nos ensina, o Ministério que deveria estar pensando em mecanismos para a retomada do crescimento, está tornando impossível a sobrevivência nacional do sistema de Ciência e Tecnologia e, como consequência, comprometendo seriamente a competitividade da Indústria Nacional.



O Brasil na contramão da história

Créditos: RCL

Não fosse suficiente esta absurda cegueira medievalesca, o congresso Nacional ainda consegue cortar cerca de 30% do restante dos orçamentos das Organizações Sociais do MCTI, a mais bem-sucedida fórmula organizacional para a pesquisa.

Recentemente, os EUA reconhecendo a enorme importância que terá em futuro imediato, se já não tem, a nanotecnologia e a nanociência para a competitividade de sua indústria, assumiu um programa específico neste segmento específico da pesquisa que custará 2.5 bilhões de dólares em cinco anos.

Ora, há pouco mais de três anos começou o MCTI a se interessar por este setor de Ciência e Tecnologia, que resultou no lançamento de um programa que recebe hoje 10 milhões de reais por ano. Ou seja, não é muito mais que um apoio puramente simbólico (meio por cento do que os EUA aplicam), que o governo dá àquela que é a mais importante das tecnologias para o futuro.

Estas e outras observações demonstram claramente que tanto governo como também a sociedade brasileira veem a atividade em pesquisas como uma necessidade de status de uma nação soberana, ou talvez como um componente importante da civilidade. Entretanto, ainda não percebem que ciência e tecnologia vêm se tornando imprescindível instrumento de competição em um mercado globalizado.

A recente reunião do Conselhão (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social) mostra isto claramente. Nenhum dos 10 oradores, 5 ministros e 5 representantes da sociedade civil mencionou sequer a Ciência e a Tecnologia. Somente a presidente Dilma Rousseff o fez, brevemente, embora. O Conselhão se compõe de 48 empresários, 28 sindicalistas, 2 religiosos e alguns representantes diversos, dentre os quais, apenas 2, poder-se-ia dizer, representam a comunidade de pesquisa no Brasil.

O MCTI continua sendo tratado como quarto de despejo. Como se Ciência e Tecnologia fosse uma atividade de fachada, sem importância econômica para o País. Quando será que vamos nos livrar desse obscurantismo?



Nota do Manager Editor: Esta matéria foi postada no Blog Rogério Cerqueira Leite no dia 22 de fevereiro de 2016.

Fonte: LQES

Nanomedicamentos: o risco das pseudoalergias graves


Resposta imune às nanopartículas
Palavras muito ouvidas e lidas na imprensa nos últimos anos - tais como nanotecnologia, nanopartículas com medicamentos e medicina personalizada - parecem trazer sinais de um futuro brilhante e remédios mais modernos e mais eficazes.
O que não se ouve falar tão comumente é que os nanomedicamentos podem causar efeitos colaterais graves quando essas nanopartículas se juntam dentro corpo, acabando por ficar grandes demais.
Por menores que sejam fabricados, esses nanomedicamentos facilmente atingem o tamanho de um vírus, quando então o corpo os reconhece como inimigos potenciais contra os quais é preciso se defender.
Começa então uma resposta imune que pode desandar para situações muito graves.
Fenômeno Carpa
Há uma resposta de hipersensibilidade frequente quando são testados esses nanomedicamentos: o chamado fenômeno Carpa, sigla em inglês para Complement Activation-Related PseudoAllergy.
Até 100 pacientes por dia em todo o mundo sofrem reações graves, incluindo distúrbios cardíacos, dificuldade de respiração, dores no peito e nas costas ou desmaios quando certas nanopartículas usadas em tratamentos médicos atingem o sangue.
E, a cada 10 dias, um paciente morre devido a uma reação anafilática incontrolável.
Pseudoalergia
Esta pseudoalergia tem os mesmos sintomas de uma alergia comum, mas com uma diferença crucial: a reação ocorre sem exposição sensibilizante anterior a uma substância, tornando difícil prever se uma pessoa vai reagir a um nanomedicamento específico.
A revista científica European Journal of Nanomedicine publicou um número especial sobre o assunto, tentando levantar os mais recentes avanços científicos sobre o fenômeno CARPA, em uma tentativa de evitar percalços para o desenvolvimento dos nanomedicamentos.
Contudo, apesar dos avanços relatados pelos maiores especialistas no assunto de todo o mundo, ainda há mais questões do que respostas em relação às causas e a como lidar com essa pseudoalergia.

Nanomaterials in the healthcare sector and maintenance work: occupational risks and prevention


Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho




The e-fact “Nanomaterials in the healthcare sector: occupational risks and prevention” explains how healthcare workers may come across manufactured nanomaterials when undertaking everyday activities in their workplaces. It provides information concerning the specific occupational risks involved and what should be done to prevent exposure.

The document was already published in English and is now available in the following additional 

languages:BG | DA | DE | EL | ESET | FI | FR | HU | IS | LT | NL | PL | PT | SL | SK
In addition, the e-fact “Nanomaterials in maintenance work: occupational risks and prevention” provides a short introduction to nanomaterials and their risks to workers’ safety and health, and explains how workers may encounter nanomaterials when undertaking maintenance work and also presents information on what should be done to prevent exposures. This e-fact was already published in English and is now available in the following additional languages: BG | DA | DE | EL | ES | ET | FI | FR | HU | IS | LT | NL | PT | SK | SL

Fonte:  Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho

terça-feira, 1 de março de 2016

NanoPetróleo: Poços de petróleo mais produtivos

Estudos indicam que nanopartículas de sílica podem aumentar o volume de óleo e gás extraídos dos reservatórios


Empregar a nanociência para elevar a produtividade de poços de petróleo, extraindo de reservatórios submarinos e continentais o óleo que não é recuperado pelos métodos tradicionais, é o objetivo dos estudos do físico Caetano Miranda, professor do Departamento de Física de Materiais e Mecânica do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IF-USP). A ideia central do pesquisador, que recorre à modelagem computacional para simular o interior de poços de petróleo em escala micro e nanométrica, é usar nanopartículas de óxidos, como a sílica, impregnadas com surfactantes – substâncias utilizadas pelas empresas petrolíferas na exploração das reservas – para extrair o petróleo aderido às rochas que formam os reservatórios. Hoje, apenas 35% do óleo contido nos poços é extraído, em média. A finalidade da nova técnica é dobrar esse percentual.
Para compreender como as nanopartículas de sílica irão atuar na exploração petrolífera, é preciso entender que tanto o óleo quanto o gás não estão armazenados em bolsões ou grandes cavernas subaquáticas ou subterrâneas. O óleo e o gás se acumulam em espaços vazios de rochas sedimentares porosas, como se fossem água em uma esponja encharcada. Quando o poço é perfurado, parte do óleo flui naturalmente, por causa da diferença de pressão – mais elevada no reservatório e menor na superfície. “Nessa recuperação primária, são extraídos em torno de 5% a 15% do total de hidrocarbonetos armazenados no depósito. Esse percentual varia conforme certos fatores, entre eles o tipo de rocha que forma o reservatório e características do óleo, como sua viscosidade, por exemplo”, explica Miranda.
No momento em que o poço começa a reduzir sua produção, as petrolíferas injetam nele água, gás carbônico (CO2) e nitrogênio para deslocar o petróleo ainda presente no reservatório. Esses fluidos são introduzidos nos poços a certa distância do local de produção e têm ação puramente mecânica, empurrando o óleo em direção à coluna de perfuração. Nesse processo de recuperação secundária do óleo chega-se à média de 35% do volume extraído na maioria dos poços do planeta.
A partir desse ponto, se estudos das petrolíferas comprovarem que há viabilidade econômica, elas continuam explorando o reservatório, injetando no poço surfactantes para fazer o deslocamento do óleo residual. “Surfactante é um produto semelhante ao sabão que altera as interfaces entre o óleo, a rocha e a água salgada, os três componentes do sistema. Ele diminui as tensões interfaciais desses componentes nos reservatórios, modificando a viscosidade do óleo e fazendo com que se desloque mais facilmente”, explica Miranda. Essa substância, porém, apresenta dois problemas. O primeiro é o custo elevado. A petrolífera precisa usar grandes volumes de surfactante, o que implica uma complexa logística de transporte, porque a maioria dos poços se encontra em lugares remotos. O segundo problema é que surfactantes são intolerantes à alta salinidade e à elevada temperatura. Nessas condições, eles precipitam, depositando-se na superfície das rochas. Quando isso acontece, eles não alteram a viscosidade do óleo residual, essencial para sua recuperação.
As pesquisas com uso de modelagem computacional feitas por Miranda recaem justamente na escolha do melhor material para fazer o papel de surfactante. O pesquisador estuda nanopartículas capazes de auxiliar na extração de óleo e gás retidos em nanoporos e microporos das rochas e, ao mesmo tempo, procura compreender o comportamento dessas nanoestruturas. “Não sabemos o que ocorre com o petróleo ou o gás natural quando eles estão confinados nos nanoporos. Sequer conhecemos o percentual de óleo e gás retido neles”, diz Miranda.
064-067_Petroleo_240-01O emprego da nanociência na indústria do petróleo, segundo o professor da USP, surgiu em 2008 a partir de uma demanda da Sociedade de Engenheiros do Petróleo (SPE, na sigla em inglês) e se insere em um campo interdisciplinar mais amplo, a nanogeociência. Ela estuda os fenômenos que ocorrem em nanoescala em materiais geológicos e tenta entender os efeitos de sistemas nanoestruturados ou nanoconfinados em escalas maiores. Segundo o pesquisador, em 2008 as nanopartículas de sílica já eram usadas comercialmente em outras áreas, como biomedicina e catálise, na síntese de novos materiais. “A questão era saber como essas nanoestruturas se comportariam nas condições extremas dos reservatórios, onde a temperatura atinge 400oC e a pressão ultrapassa 200 atmosferas (atm). Precisávamos saber se seriam capazes de modificar a interação entre o óleo, a rocha e a salmoura”, explica. “Nossos estudos indicaram que as nanopartículas de sílica poderiam ser potencialmente utilizadas para extração do óleo.”
O trabalho também teve como desafio tornar funcionais as nanopartículas de sílica com um surfactante, a fim de potencializar sua ação. “A partir de simulações moleculares, tentamos descobrir qual seria o melhor produto a ser adicionado na nanoestrutura, já que existem muitos no mercado. A nanopartícula de sílica, em si, altera a interface entre o óleo, a rocha e a salmoura, mas com o acréscimo de um surfactante essa ação fica mais eficaz”, diz Miranda. “Queremos entender por que ele altera a molhabilidade do óleo.” Molhabilidade é a capacidade de um líquido em manter contato com uma superfície sólida quando os dois são colocados juntos. “Recorremos à simulação em computador por causa do custo-benefício. Fazer os ensaios dos surfactantes nos reservatórios seria custoso e demorado demais.” No caso de funcionar com as nanopartículas de sílica, a quantidade e o custo do surfactante serão bem menores em relação ao volume utilizado sozinho.
Outra vertente da pesquisa é estudar nanoestruturas que possam ser empregadas para “iluminar” os campos de petróleo, extraindo mais informações dos reservatórios, como, por exemplo, detalhes sobre a porosidade das rochas, os fluidos presentes nelas, a composição química e as condições de temperatura e pressão do ambiente. Essas informações são essenciais para as tomadas de decisão da equipe de engenharia de produção. O uso de nanopartículas, segundo Miranda, poderia aprimorar a resposta da ressonância magnética feita durante a perfuração – a técnica é empregada para mapeamento dos depósitos. Para isso, nanopartículas seriam injetadas no poço junto com a água, servindo como agentes de contraste. “De uma maneira geral, nossos estudos buscam uma melhor compreensão, em escala molecular, dos mecanismos e fenômenos que ocorrem em poços de petróleo. Queremos ter uma visão atomística do processo e verificar as consequências em escalas maiores”, afirma.
Códigos computacionais
Três teses de doutorado, quatro dissertações de mestrado e mais de uma dezena de artigos foram produzidos nos últimos oito anos no âmbito das pesquisas de Caetano Miranda. Seu trabalho tem vinculação com um projeto de quatro anos financiado pela FAPESP e coordenado pelo físico Alex Antonelli, do Instituto de Física Gleb Wataghin da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). “Nosso projeto tem como finalidade estudar uma varidade de propriedades da matéria condensada por meio da modelagem computacional. Caetano utiliza as mesmas ferramentas que empregamos e, por isso, podemos compartilhar tanto os computadores quanto os códigos computacionais”, afirma Antonelli. “Em princípio, podemos compreender no computador, que funciona como um laboratório virtual, os processos já conhecidos e possivelmente melhorá-los de uma forma mais barata, sem ter que testar uma nova ideia na prática.”
064-067_Petroleo_240-02Apoio das petrolíferas
Além da FAPESP, Miranda também recebe financiamento da Petrobras. Suas pesquisas se inserem no programa de Redes Temáticas da estatal, instituído em 2006 e executado em parceria com pesquisadores de universidades e instituições nacionais de pesquisa. “O trabalho do professor Caetano faz parte da Rede Temática Recuperação Avançada de Petróleo”, afirma a engenheira de petróleo Lua Selene Almeida, do Centro de Pesquisas da Petrobras (Cenpes). “É um estudo muito avançado e de fronteira. Ele está nos ajudando a modelar fenômenos físicos que ocorrem nos poços de petróleo numa escala bem distinta daquela que estudamos em nossos laboratórios”, diz a pesquisadora.
Outra fonte de financiamento dos estudos vem do Advanced Energy Consortium(AEC), consórcio internacional de empresas do setor de petróleo, entre elas a anglo-holandesa Shell, a inglesa British Petroleum (BP), a norueguesa Statoil, a espanhola Repsol, a francesa Total e a Petrobras, voltado ao financiamento de nanociência aplicada à indústria do petróleo. O projeto apoiado pela AEC contou com a participação de pesquisadores da Universidade de Austin, no Texas, um importante centro de estudos no setor de óleo e gás. “Enquanto nosso grupo fazia as simulações em computador, eles se encarregavam da parte experimental”, diz Miranda, destacando que testes laboratoriais e ensaios experimentais, etapas que precedem aos experimentos com as nanopartículas de sílica nos campos de petróleo, também serão realizados em breve no IF-USP.
“As simulações computacionais são muito mais baratas e apresentam menos riscos do que os experimentos de laboratório”, diz a química Flávia Cassiola, pesquisadora brasileira da Shell Internacional, Produção e Exploração, em Houston, nos Estados Unidos. “A indústria do petróleo tem todo o interesse que os métodos se aprimorem, proporcionando a inclusão de mais características dos reservatórios na simulação. A Shell possui vários grupos dedicados à simulação computacional em seus centros de tecnologia e inovação e o professor Caetano é a nossa referência no assunto. O trabalho dele tem nos auxiliado no desenvolvimento e aprimoramento de métodos avançados de recuperação de petróleo e gás natural”, diz Flávia.
Projeto
Modelagem computacional da matéria condensada: uma abordagem em múltiplas escalas (nº 2010/16970-0); Modalidade Projeto Temático; Pesquisador responsável Alex Antonelli (IFGW-Unicamp); Investimento R$ 356.196,00 e US$ 225.400,00.