Pesquisar este blog

Translate

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Novos reforços para vacinas

 Carlos Fioravanti

Instituto Butantan desenvolve compostos para ampliar ação de antígenos

Pesquisadores do Instituto Butantan estão avançando nos testes de compostos conhecidos como adjuvantes de vacinas, que permitem o uso de doses menores de vacinas e ampliam as respostas do organismo contra microrganismos causadores de doenças. 
                                                                                                                         © EDUARDO CÉSAR
Produção da vacina Influenza
no Instituto Butantan
Dois novos adjuvantes desenvolvidos no próprio instituto estão se mostrando promissores.
Um dos adjuvantes é o monofosforil lipídico A (MPL), um componente da parede celular da bactéria Bordetella pertussis, causadora da coqueluche, extraído para a produção da vacina. Em um teste duplo cego realizado com 266 adultos vacinados com a vacina contra o vírus H1N1 combinada ou não com diferentes adjuvantes, o MPL mostrou-se de uso seguro, mantendo o mesmo efeito da vacina com ¼ da dose (um dos grupos dos participantes do estudo recebeu uma dose de 15 microgramas de antígeno viral sem adjuvante e outro, 3,5 microgramas de antígeno combinado com hidróxido de alumínio e MPL).

Alexander Precioso, diretor da divisão de ensaios clínicos do Instituto Butantan, comentou que os pesquisadores puderam fazer testes diretamente em seres humanos porque os fabricantes de vacinas temiam não conseguir produzir o suficiente para atender a procura, caso o surto se espalhasse. Segundo ele, diante de uma possível calamidade pública, as agências reguladoras dispensaram alguns dos tradicionais testes prévios de segurança e eficácia em animais, “embora o adjuvante MPL produzido pelo instituto já tivesse sido estudado isoladamente em animais”.

“Caso precisássemos”, diz Precioso, “teríamos como atender um número maior de pessoas, usando os adjuvantes”. Não foi preciso, mas a experiência mostrou rapidamente o valor do MPL. O plano agora é testar esse composto com as vacinas contra influenza sazonal e contra hepatite B, desta vez com todos os ensaios regulares, em animais de laboratório.
Os adjuvantes, ressalta Precioso, permitem o uso de doses menores de antígenos, podendo-se assim produzir uma quantidade maior de doses e atender maior número de pessoas. Os resultados dos testes estão detalhados em um artigo publicado em novembro de 2011 na revista Vaccine.

A sílica porosa nanoestruturada SBA-15 também tem se mostrada promissora como adjuvante ou veículo de vacinas, de acordo com estudos realizados desde 2002 em colaboração entre o Instituto Butantan, a Universidade de São Paulo e, desde 2005, o Laboratório Cristália.

Em novembro de 2010, na Vaccine, uma equipe coordenada por Osvaldo Augusto Sant’Anna mostrou que a sílica promovia respostas imunes desejáveis em camundongos. Outros estudos, feitos em outros países, indicaram a capacidade da sílica, depois de tratamentos apropriados, abrigar e transportar, como uma esponja, antígenos usados como vacinas.
Agora, outro estudo, indicou que a sílica nanoporosa poderia ser usada como veículo para vacinas administradas por via oral. Os testes preliminares foram feitos com a vacina contra hepatite B em camundongos e detalhados em um artigo publicado na edição de outubro-dezembro de 2011 da revista Einstein.

Segundo Sant’Anna, a ampliação do uso oral de vacinas permitiria uma grande economia, dispensando o uso de agulhas e seringas, ampliando o número de pessoas vacinadas e permitindo a aplicação de doses menores que as atuais. Com sua equipe, ele planeja agora o uso da sílica como adjuvante e veículo de outras vacinas de uso humano.

De acordo com o Ministério da Saúde, em 2010 o Instituto Butantan produziu 51% das vacinas e 56% de soros utilizados no país, incluindo as vacinas contra difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e influenza sazonal e H1N1.

Centros de pesquisa e de produção de vacinas do mundo inteiro buscam avidamente novos adjuvantes. Um dos mais recentes é o composto conhecido como MF-59, uma emulsão de óleo em água, desenvolvido pela empresa Novartis e licenciado na Europa para uso com vacinas de influenza sazonal, embora seu mecanismo de ação não seja inteiramente compreendido. O adjuvante mais comum, o hidróxido de alumínio, está em uso há cerca de 70 anos.

Artigos científicos
Carvalho LV, Ruiz Rde C, Scaramuzzi K, Marengo EB, Matos JR, Tambourgi DV, Fantini MC, Sant'Anna OA. Immunological parameters related to the adjuvant effect of the ordered mesoporous silica SBA-15. Vaccine. 2010 Nov 23;28(50):7829-36.
Karina Scaramuzzi, Denise Cristina André Oliveira, Luciana Vieira Carvalho, Denise Vilarinho Tambourgi, Elisabeth Christina Nunes Tenório, Marisa Rizzi, Juliana Mussalem, Márcia Carvalho de Abreu Fantini, Viviane Fongaro Botosso, Osvaldo Augusto Sant´Anna.Utilização da sílica nanoestruturada SBA-15 como adjuvante em imunizações com a vacina para hepatite B. Einstein, Volume 9, Número 4, outubro/dezembro 2011. 2011; 9(4 Pt 1):436-41.
Mercuri L, Carvalho LV, Lima FA, Quayle C, Fantini MC, Tanaka GD, Cabrera WH, Tambourgi DV,  Matos JR, Jaroniec M, Sant’Anna OA. Ordered Mesoporous Silica SBA-15: A New Effective Adjuvant to Induce AntibodyResponse. Small 2 (2006), 254 – 256.
Precioso AR, Miraglia JL, Campos LM, Goulart AC, Timenetsky Mdo C, Cardoso MR, Luna E, Mondini G, Guedes Jda S, Raw I. A phase I randomized, double-blind, controlled trial of 2009 influenza A (H1N1) inactivated monovalent vaccines with different adjuvant systems. Vaccine 29 (2011) 8974– 8981.
Quintilio W, Kubrusly FS, Iourtov D, Miyaki C et al. Bordetella pertussis monophosphoryl lipid A as adjuvant for inactivated split virion influenza vaccine in mice. Vaccine. 2009; 27:4219-4224.