O grupo internacional Structural Genomics Consortium (SGC), iniciativa público-privada baseada no conceito de inovação aberta, quer o Brasil como um parceiro estratégico na investigação de novas proteínas e desenvolvimento de fármacos.
O Consórcio é formado pelas universidades de Toronto, Oxford e Karolinska Institutet, em Estocolmo, e pelas empresas Eli Lilly, Pfizer, Novartis Research Foundation, Wellcome Trust e Agência Canadense, e conta com US$ 50 milhões para determinar estruturas 3D de alvos potenciais de drogas, em larga escala e a baixo custo.
O interlocutor do lado brasileiro é o Laboratório Nacional de Biociências (LNBio), instalado em Campinas (SP), que promoveu, entre os dias 12 e 13 de março, uma reunião com representantes do SGC no campus do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM). Também estiveram presentes no evento representantes de agências estaduais de fomento e de multinacionais farmacêuticas.
O SGC reúne importantes instituições de ensino e pesquisa num esforço acadêmico coletivo e aberto. No encontro em Campinas foram discutidas as possibilidades de aplicação desse modelo horizontalizado de pesquisa básica no País, tendo o LNBio como centro responsável pelo intercâmbio de conhecimento e de recursos humanos. "Nós estabelecemos um cronograma para iniciar um programa piloto no laboratório", diz Kleber Franchini, diretor do LNBio.
Segundo ele, o laboratório está definindo 100 proteínas para serem estudadas, ao longo de um ano. A equipe será composta por quatro pesquisadores brasileiros, que serão treinados por um cientista membro do SGC. O objetivo desse grupo será identificar a estrutura dessas proteínas escolhidas e gerá-las em estado puro. O trabalho envolverá o LNBio e o Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), instalado no mesmo campus - que opera duas linhas de Cristalografia de Macromoléculas, técnica muito utilizada para observar a estrutura das proteínas.
O estudo mais detalhado dessas proteínas é o passo importante para descobrir novos fármacos. Aled Edwards, diretor do SGC e professor de Pesquisa Médica da Universidade de Toronto, explicou durante apresentação no LNBio que existem pouco mais de 500 tipos de quinase, classe de enzimas tidas como alvos importantes de drogas. Entretanto, em torno de 90% da pesquisa realizada pela academia e pela indústria farmacêutica concentra-se em poucos alvos.
Essa seleção reduz o risco científico, mas reduz também a velocidade das descobertas tanto no campo acadêmico como comercial. Edwards explica que é difícil conseguir financiamento para pesquisas cujo retorno é incerto. "Sessenta e cinco por cento das publicações do ano passado foram baseadas em 50 quinases descritas em 1992. A academia não está inovando, mas há ótimas oportunidades", comenta o cientista.
O conceito compartilhado de inovação do SGC permite levar adiante pesquisas de alto risco na indústria farmacêutica. "É a organização de financiamento e o compartilhamento de informação que nos possibilita os recursos necessários para fazer o que nenhuma outra instituição faz", afirma Edwards.
Para Franchini, o modelo aberto de inovação é o "mundo ideal do cientista acadêmico", no qual é possível gerar informações sem haver barreiras para compartilhar esse conhecimento. "Fazer parte disso significa participar de um ambiente de pesquisa internacional. E só se entra nesse sistema com competência e interesse em melhorar seu ambiente científico", diz.
Outro aspecto importante da reunião foi o interesse manifestado pelas agências estaduais de fomento, presentes no evento. Hernan Chaimovich, assessor especial da Diretoria Científica da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), destaca que o País pode aprender com o modelo apresentado pelo SGC. "O modelo é tão importante quanto o projeto que foi discutido. As apresentações deixam clara a importância do foco na rede", explica. Para ele, também foi mostrado que as empresas têm interesse no acesso ao conhecimento, gerado nas instituições de pesquisa, mesmo em nível pré-competitivo.
Do lado dos visitantes, Chas Bountra, cientista-chefe do SGC em Oxford, diz que ficou impressionado com o entusiasmo do LNBio e seus resultados. "Eles utilizam algumas técnicas que nós utilizamos, ou queremos utilizar, e eles estão preocupados com a descoberta de novas drogas. Acho que aqui temos diversas atividades complementares. Para ser sincero, será loucura não trabalharmos juntos", completa.
O Laboratório Nacional de Biociências (LNBio) integra o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), composto por mais três laboratórios nacionais: de Luz Síncrotron (LNLS), de Nanotecnologia (LNNano) e de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE).
Fonte: Jornal da Ciência