Pesquisar este blog

Translate

sábado, 2 de junho de 2012

Internet por toda a parte


Fazer café, acender a luz ou regar o jardim ao apertar um botão faz parte da realidade das pessoas há décadas. A tecnologia, porém, promete expandir as funções desses aparatos tecnológicos, abrindo um meio de comunicação entre aparelhos e usuários. Na nova era automatizada, bastaria uma mensagem de texto para que a cafeteira de casa preparasse a bebida quente, bem a tempo do término de um dia de trabalho. O aparelho ainda poderia avisar o dono diretamente em seu celular quando fosse necessário comprar mais grãos, ou deixar de fazer o café caso não houvesse leite para acompanhá-lo na geladeira.

Esse futuro pode estar mais próximo do que parece, graças a um microprocessador que se conecta à internet via wi-fi e vem embutido em um cartão SD, semelhante aos usados para dar memória às câmeras fotogràficas digitais. A peça, garantem os fabricantes, possibilita a conexão de qualquer aparelho, sensor ou interruptor à internet, o que multiplicaria as funções de eletrodomésticos comuns. A invenção segue a linha de outras anteriores, mas traz uma carga maior de expectativa por causa de seus autores: a iniciativa, que será lançada para testes no meio do ano, foi criada por Hugo Fiennes, responsável pelos projetos dos primeiros quatro iPhones, e Kevin Fox, criador da primeira versão do Gmail.

Acompanhados de uma pequena equipe de profissionais, os dois abriram secretamente há um ano a companhia Electric Imp, que planeja alcançar um objetivo ambicioso:
dar voz a todos os aparelhos. O princípio, denominado internet das coisas (IoT, na sigla em inglês), é discutido desde 1980, mas somente nos últimos anos ganhou força com a evolução das tecnologias necessárias para sua implementação, como a identificação por radiofrequencia (RFID), o wi-fi ou a biometria.

"O Electric Imp (nome dado também ao processador) é um bom empacotamento de tecnologias conhecidas. Hoje, os padrões de codificação não são restritos, o armazenando de dados pode ser remoto e o acesso ocorrer por meio da internet. Essa nova abordagem abre o caminho para aplicações apenas limitadas pela imaginação", ressalta José Roberto Amazonas, professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP).

No vídeo de apresentação do protótipo do Electric Imp, o cartão é ligado a um sensor de umidade. Um conjunto de luzes de Natal acende assim que o aparelho é imerso em um copo d"água e desliga quando ele é retirado. Os criadores do projeto garantem que o truque, apesar de pouco útil, representa um novo leque de possibilidades nas tarefas domésticas comandado pelas vontades do usuário. "Estamos vendendo um serviço que torna muito mais fácil para empresas fazerem produtos e para consumidores usarem dispositivos conectados à internet. Acreditamos que produtos conectados farão uma diferença nas vidas das pessoas", garante Hugo Fiennes.

Comodidade

Entre os usos do novo aparelho, Fiennes destaca a possibilidade de ajustar o termostato da casa de acordo com a previsão do tempo e com o número de visitas, ou programar a secadora para avisar via mensagem de texto quando as roupas estiverem secas (veja quadro). "Mas a maioria das pessoas não se interessa na versão "utópica" de uma casa onde todos os aparelhos são conectados", ressalta o criador do dispositivo. "Elas só querem algumas coisas melhoradas. Talvez sempre se esqueçam de regar as plantas e queiram um lembrete, ou querem saber se o ônibus está atrasado antes de sair de casa. O Electric Imp dá aos fabricantes a possibilidade de resolver esses problemas."

A programação das novas funções pode ser feita em um smartphone Android ou iOS, arrastando e soltando tarefas pré-projetadas em um aplicativo. Com uma tecnologia batizada de blinkup, os comandos enviados via celular vão direto para o aparelho, por meio de um fotossensor do cartão. A equipe já desenvolveu três modelos de kits com cartões e placas de circuitos com diferentes tamanhos e funções. Conectar essas peças a uma televisão ou geladeira comuns ainda é complicado, mas os desenvolvedores avisam que já estão trabalhando numa interface mais amigável para leigos, e também abriram negociações com fabricantes interessados em fazer aparelhos adaptados à tecnologia.

A tendência , de acordo com especialistas, é que a automação de dispositivos seja cada vez mais comum em tarefas voltadas à economia de energia e água ou à segurança
. "Estima-se que, em 2017, o mundo terá 7 trilhões de objetos conectados à internet", informa Ademir Lourenço, engenheiro e pesquisador da Fundação Centro de Análise, Pesquisa e Inovação Tecnológica (Fucapi), de Manaus. "As possibilidades são infinitas, a ponto de haver uma tendência de nos próximos cinco anos as novas gerações de eletrodomésticos virem com dispositivos do tipo do Electric Imp, podendo o usuário por exemplo conectar o seu Smart Edge de qualquer lugar do mundo com qualquer equipamento instalado no seu escritório", completa.

Passos lentos

A internet das coisas é uma realidade em evolução.
O princípio está presente em videogames que possibilitam a compra de jogos pela internet ou em câmeras que enviam imagens de segurança pela internet para o morador enquanto ele está fora. Existem ainda serviços de automação, oferecidos por engenheiros que prometem adaptar qualquer aparelho de acordo com as vontades do cliente. Os projetos reprimidos nos anos 1980 ganham força com a nanotecnologia e as possibilidades criadas pela popularização do sistema wireless.

No entanto, os avanços no campo não são tão rápidos quanto permite a tecnologia atual - a geladeira que faz a lista de compras é um item fabricável, mas que ainda não está nas lojas para consumo. "O que impede os fabricantes são padrões de interface, já que os objetos de hoje são concebidos para realizar tarefas muito específicas, dentro de programação restrita e fechada. É preciso evoluir para objetos construídos sobre plataformas mais abertas, com sensores e atuadores para reagir ao ambiente de forma autônoma", critica Ricardo Murer, blogueiro especialista em estratégia digital e novas tecnologias. Como são poucos os especialistas que sabem lidar com equipamentos adaptáveis como o Electric Imp, eletrodomésticos inteligentes só estarão presentes nas casas populares em um longo prazo, a ser definido pelos fabricantes.

Fonte: ABDI