Imagens dessa disciplina que mescla arte, ciência e tecnologia podem valer até US$ 15 mil.
O objeto, associado imediatamente a cientistas, vem sendo o principal instrumento para um tipo de manifestação artística nascida quase por acaso dentro dos laboratórios. A nanoarte, disciplina que mistura arte, ciência e tecnologia, vem ganhando espaço à medida que a nanociência e a nanotecnologia evoluem.
No lugar do pincel ou da câmera, um microscópio.

E o Brasil já tem seus cientistas-artistas representantes na área. Durante o mês de março, três imagens produzidas por pesquisadores e técnicos do País serão exibidas em uma exposição em Israel. Os autores trabalham no Centro Multidisciplinar para Desenvolvimento de Materiais Cerâmicos da Fapesp (CMDMC) e no Instituto Nacional de Ciência dos Materiais em Nanotecnologia do CNPq-Fapesp.
Elas já haviam participado da Mostra Internacional On-line Nanoarte-2011, realizada em Nova York e organizada pelo cientista romeno Cris Orfescu. Orfescu é um dos expoentes na nanoarte, sendo chamado inclusive de nanoartista. Foi o primeiro a publicar imagens desse tipo em revistas científicas, de acordo com o pesquisador da Unesp e da UFSCar Elson Longo, que é um dos representantes da disciplina no Brasil.
Cores e formas - Longo explica que um dos elementos que diferencia essas imagens artísticas (invisíveis a olho nu, com dimensões um milhão de vezes menores que um milímetro) das nanoimagens científicas tradicionais é a maneira como as primeiras são coloridas pelos pesquisadores. A partir da pigmentação - usada originalmente para ressaltar aspectos e propriedades do objeto observado -, esses registros feitos por microscópios de varredura de alta resolução ou de transmissão ganham vida e relembram objetos "visíveis" da natureza e do dia a dia humano. "Arte é isso: cada um expressa o que mais gosta, entende, vê", compara o professor.
Um dos exemplos é a imagem selecionada para exposição israelense titulada Tenis Bol Silver Nanoparticles, de Ricardo Tranquilim: esferas coloridas com o amarelo típico das bolas de tênis. As outras que viajarão para a mostra são Spirals Hematite, de Rorivaldo de Camargo, e Dreams by Van Gogh e Status Quo, de Enio Longo.
Os títulos criativos são outro toque dos pesquisadores. Elson Longo lembra que a técnica de colorir já ultrapassou os limites artísticos e que imagens de fragmentos em nanoescala pintadas cada vez mais aparecem nas principais revistas científicas do mundo. Não é coincidência que países que têm tradição artística como Espanha e França estejam entre os que produzem mais nanoarte, ao lado de Estados Unidos e Rússia. Segundo Longo, a nanoarte está sendo realizada em cerca de 40 países.
Mercado valorizado - O pesquisador conta que alguns exemplares de nanoarte podem alcançar preços de até 15 mil dólares, feito comparável a vendas de obras de artistas renomados. "O alto valor se dá devido ao alto custo do equipamento, que pode valer um milhão de dólares, e ao fato de serem imagens originais, que em geral não podem ser reproduzidas", detalha Longo. Entre os principais compradores, não estão cientistas ou institutos de pesquisas e sim "pessoas interessadas por obras de arte". Longo lembra que muitas vezes os cientistas contam com um orçamento enxuto, que não permite esse tipo de compra.
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Alguns dos mais belos exemplares brasileiros desses registros foram reunidos pelo CMDMC no site www.cmdmc.com.br/nanoarte/. O experimento deu tão certo que, inserido na pesquisa do centro, virou um projeto que envolve exposições de fotos, vídeos no YouTube e material didático para escolas do ensino fundamental e médio. Nesses registros, polímeros, materiais como cerâmica e metais, por exemplo, formam imagens que lembram um gramado, um jardim florido, o solo rachado do Sertão brasileiro, células e partes do corpo humano, edifícios de concreto e o que mais a imaginação do autor e do espectador permitir.
(Clarissa Vasconcellos)
Fonte: Jornal da Ciência