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terça-feira, 6 de março de 2012

Brasileiros participam de exposição de Nanoarte em Israel

Imagens dessa disciplina que mescla arte, ciência e tecnologia podem valer até US$ 15 mil.


No lugar do pincel ou da câmera, um microscópio. 
O objeto, associado imediatamente a cientistas, vem sendo o principal instrumento para um tipo de manifestação artística nascida quase por acaso dentro dos laboratórios. A nanoarte, disciplina que mistura arte, ciência e tecnologia, vem ganhando espaço à medida que a nanociência e a nanotecnologia evoluem.

E o Brasil já tem seus cientistas-artistas representantes na área. Durante o mês de março, três imagens produzidas por pesquisadores e técnicos do País serão exibidas em uma exposição em Israel. Os autores trabalham no Centro Multidisciplinar para Desenvolvimento de Materiais Cerâmicos da Fapesp (CMDMC) e no Instituto Nacional de Ciência dos Materiais em Nanotecnologia do CNPq-Fapesp.

Elas já haviam participado da Mostra Internacional On-line Nanoarte-2011, realizada em Nova York e organizada pelo cientista romeno Cris Orfescu. Orfescu é um dos expoentes na nanoarte, sendo chamado inclusive de nanoartista. Foi o primeiro a publicar imagens desse tipo em revistas científicas, de acordo com o pesquisador da Unesp e da UFSCar Elson Longo, que é um dos representantes da disciplina no Brasil.

Cores e formas - Longo explica que um dos elementos que diferencia essas imagens artísticas (invisíveis a olho nu, com dimensões um milhão de vezes menores que um milímetro) das nanoimagens científicas tradicionais é a maneira como as primeiras são coloridas pelos pesquisadores. A partir da pigmentação - usada originalmente para ressaltar aspectos e propriedades do objeto observado -, esses registros feitos por microscópios de varredura de alta resolução ou de transmissão ganham vida e relembram objetos "visíveis" da natureza e do dia a dia humano.  "Arte é isso: cada um expressa o que mais gosta, entende, vê", compara o professor.

Um dos exemplos é a imagem selecionada para exposição israelense titulada Tenis Bol Silver Nanoparticles, de Ricardo Tranquilim: esferas coloridas com o amarelo típico das bolas de tênis. As outras que viajarão para a mostra são Spirals Hematite, de Rorivaldo de Camargo, e Dreams by Van Gogh e Status Quo, de Enio Longo.

Os títulos criativos são outro toque dos pesquisadores. Elson Longo lembra que a técnica de colorir já ultrapassou os limites artísticos e que imagens de fragmentos em nanoescala pintadas cada vez mais aparecem nas principais revistas científicas do mundo. Não é coincidência que países que têm tradição artística como Espanha e França estejam entre os que produzem mais nanoarte, ao lado de Estados Unidos e Rússia. Segundo Longo, a nanoarte está sendo realizada em cerca de 40 países.

Mercado valorizado - O pesquisador conta que alguns exemplares de nanoarte podem alcançar preços de até 15 mil dólares, feito comparável a vendas de obras de artistas renomados. "O alto valor se dá devido ao alto custo do equipamento, que pode valer um milhão de dólares, e ao fato de serem imagens originais, que em geral não podem ser reproduzidas", detalha Longo. Entre os principais compradores, não estão cientistas ou institutos de pesquisas e sim "pessoas interessadas por obras de arte". Longo lembra que muitas vezes os cientistas contam com um orçamento enxuto, que não permite esse tipo de compra.


Alguns dos mais belos exemplares brasileiros desses registros foram reunidos pelo CMDMC no site www.cmdmc.com.br/nanoarte/. O experimento deu tão certo que, inserido na pesquisa do centro, virou um projeto que envolve exposições de fotos, vídeos no YouTube e material didático para escolas do ensino fundamental e médio. Nesses registros, polímeros, materiais como cerâmica e metais, por exemplo, formam imagens que lembram um gramado, um jardim florido, o solo rachado do Sertão brasileiro, células e partes do corpo humano, edifícios de concreto e o que mais a imaginação do autor e do espectador permitir.

(Clarissa Vasconcellos)