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terça-feira, 6 de março de 2012

Desafios da nanotecnologia


Washington Araújo

Essa revolução encontra-se ainda na infância. E o Brasil pode e deve participar ativamente, inovando nesse campo. Um bom começo é constatarmos ser necessária uma mudança de mentalidade do governo e dos empresários brasileiros.
Há muito vivemos o dilema do tempo futuro. Ele sempre consegue nos surpreender, pois os tempos são céleres, tudo vira logo passado. Mas as conseqüências do ”antes de ser passado” vigoram por longo tempo. É neste contexto que o espaço de 20 anos pode representar o surgimento, desenvolvimento e até mesmo o desuso de um novo produto. Em duas décadas, o nascimento e o auge de uma nova empresa caminham paralelamente ao declínio de outra. Um exemplo prático: em 1984, ano do início da era do videocassete, os computadores pessoais praticamente não existiam. Como conseqüência, ainda não existiam as megacorporações da internet como a Microsoft.

Hoje podemos nos perguntar: o que nos reservam os próximos 20 anos? Podemos responder de duas maneiras. Como cidadãos resta-nos aproveitar o boom tecnológico para alcançarmos os meios de cura para algumas doenças, para melhorar o nosso dia-a-dia e também para implementar inúmeras formas de lazer. Uma outra maneira é termos como ponto de partida o nosso país. 

Neste caso, torna-se inadiável planejarmos as ações para atuar competitivamente no mercado mundial e garantir um futuro que inclua a disponibilidade de emprego, saúde e qualidade de vida para nossa população. 

Com certeza, as duas maneiras passarão, inevitavelmente, pela chamada ”revolução nanotecnológica”. Para muitos, o próprio termo nanotecnologia é algo estranho, difícil de apreender. O prefixo ”nano” surge das dimensões dos objetos investigados, com tamanhos da ordem de até alguns nanômetros, trocando em miúdos, algo com dimensões de um milionésimo de um milímetro (1 nm = 10-9 m). Para termos uma noção adequada nada como pensarmos que a ponta da esfera de uma caneta esferográfica – que tem 0,8 mm de diâmetro – pode conter nada menos que 60 bilhões de partículas de 10 nanômetros. E é aí que mora o perigo (ou seria o desafio?): para estudar objetos nanométricos há de se dispor de equipamentos modernos, caros e sofisticados, e técnicas de preparação muito específicas para conseguir controlar o tamanho das partículas em uma escala de tamanhos tão pequenos.

É fato que os cientistas brasileiros têm, hoje, plenas condições de contribuir com pesquisas de ponta em nanociência, pois, uma vez bem equipados, devem disputar com a comunidade internacional fundamentalmente no campo das idéias. E, bem o sabemos, novas idéias e novos resultados em ciência básica têm efeito avassalador e imprevisível, incluindo, provavelmente, a inovação tecnológica, que, por sua vez, gera riqueza através de novas empresas, novos empregos etc. Para que o Brasil enfrente o desafio, é urgente a criação de um ”círculo virtuoso” através de uma ação coordenada que englobe o governo, as universidades, os centros de pesquisa, empresas e o setor produtivo em geral.

O bom de tudo isso é que a revolução nanotecnológica encontra-se ainda em sua infância. E o Brasil pode e deve participar ativamente, inovando nesse campo. Um bom começo é constatarmos ser necessária uma mudança de mentalidade do governo e dos empresários brasileiros. Em todos os países ditos do primeiro mundo, a transformação das idéias em produtos ocorre principalmente nas empresas que, por sua vez, investem grandes somas de dinheiro em pesquisas científicas, sejam básicas ou aplicadas. Muitas vezes esse dinheiro retorna apenas em longo prazo, pois diversas vezes as pesquisas não se transformam em tecnologia, e o dinheiro investido parece ter sido ”a fundo perdido”.

Algo muito positivo é o fato de que o Brasil, de acordo com o Plano Plurianual 2004-2007, dispõe do programa ”Desenvolvimento da Nanociência e da Nanotecnologia”. O programa possui quatro ações básicas: a implantação de laboratórios e redes de nanotecnologia, o apoio a redes e laboratórios de nanotecnologia; o fomento a projetos institucionais de pesquisa e desenvolvimento em nanociência e nanotecnologia.

Mas o que pensam sobre a nanotecnologia no Brasil? Uma pista está na pesquisa informal feita pelo consultor Ronaldo Marchese, da RJR Consultores, que ouviu algumas das principais empresas brasileiras, incluindo algumas filiais de multinacionais. As respostas mais ouvidas sobre nanotecnologia foram: 1) A nossa diretoria achou que esse assunto ainda é muito ”novinho”; 2) é um tema futurista; 3) Não conhecemos o assunto. Ao mesmo tempo, notícias confiáveis dão conta que os investimentos mundiais em nanotecnologia ultrapassarão US$ 80 bilhões até o fim de 2005. Tanto interesse se justifica pelas projeções de que os produtos elaborados a partir da nanotecnologia movimentarão recursos em torno de US$ 1 trilhão.

Feitas estas considerações, não podemos ficar paralisados e aproveitar os próximos 20 anos realizando centenas de reuniões para concluirmos que temos que embarcar no futuro… hoje. Harald Fuchs, diretor do Centro de Nanotecnologia da Universidade de Münster, na Alemanha, foi claro: ”O mundo está diante da promessa de uma nova Revolução Industrial, que introduzirá, até 2008, produtos mais baratos, recicláveis e de fabricação simples”.

Estamos em 2012, será que isto aconteceu?

(*) Washington Araújo tem o blog http://www.cidadaodomundo.org


Washington Araújo é jornalista e escritor. Mestre em Comunicação pela
UNB, tem livros sobre mídia, direitos humanos e ética publicados no Brasil,
Argentina, Espanha, México. Tem o blog http://www.cidadaodomundo.org
Email - wlaraujo9@gmail.com

Fonte: Carta Maior
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REFLEXÃO: 


O texto está pautado numa perspectiva atrasada - se é que posso dizer isso - pois se pauta na necessidade de o governo e empresários abrirem a mentalidade para atuarem e não ficarem para trás na Era Nanotecnológica.

Todavia, já há muitas empresas que labutam na esfera nano aqui no Brasil, principalmente aquelas que nascem nas universidades com investimento público. Ou seja, quando estão os pesquisadores lá atrás do balção e sendo patrocinados e bancados por verbas públicas para engendrar nanotecnologias e depois muitos tornam-se empreendedores e continuam aquilo que faziam nas universidade só que de forma negocial.

Sim, é lógico que precisamos de mais investimentos, se comparados com os países de fora (principalmente os Estados Unidos, China, Japão e Alemanha), para alavancar o desenvolvimento do país. Mas eu vou mais afundo.

O autor não analisou a quantidade crescente de patentes que são depositadas no INPI e que levam a alcunha de "nano" (mesmo que muitas vezes não tenha nada a ver com nanotecnologia, mas isso é assunto para outro dia) e que são de empresas brasileiras e muitas de universidades, logo dinheiro público sendo investido em Nanotecnologia.


Alguns exemplos de investimento: 
o Brasil construiu um super laboratório no Rio de Janeiro (Labnano) e recentemente anunciou outro com a China, que será sediado em Campinas (SP), o CBC-Nano - ainda em fase virtual - vinculado ao LNNano e que recebeu boa monta de recursos públicos, também o laboratório com a Argentina (CBAN), enfim.. Ou seja, os recursos estão aparecendo, mesmo que recentemente ouvimos falar do burburinho de pesquisadores e demais interessados preocupados com os cortes nas verbas com ciência e tecnologia.
Porém, o Plano Plurianual 2012-2015 prevê desideratos de pesquisa intensiva em nanotecnologia, isto quer dizer que há planejamento estratégico para desenvolver mas o que não há é a Precaução e Cautela para engendrar avaliando os possíveis nanoriscos, nanodescartes, nanolixões, as interações com o meio ambiente e seres humanos, etc. Isso o autor não abordou , bem como não falou do PPA 2012-2015 mas sim do antigo do antigo o PPA 2004-2007.



Faltou para o autor a análise do não engajamento público para, aí sim, debater a nanotecnologia. 

Não apenas aceitar e forçar investimentos públicos e privados, mas debater os riscos e percalços e a real necessidade dessa nanotecnociência. 


Basicamente o texto não aprofundou temas já discutidos nesse blog sobre os referidos temas, assim como relegou ao governo e às empresas o adentrar na Era Nano, sendo que todos nós devemos nos preocupar, nos engajar com o que virá e está sendo posto pela Nanotecnologia.

Será ela mesmo quem resolverá os problemas da fome, sede, moradia, vestimentas, educação, e demais mazelas das nações pobres e de nossos pobres? Será que ela igualizará o acesso aos meios de sustento para todos?

Essas são as promessas de venda das marcas "nano",  como bem disse o professor Peter Alexander B. Schulz, professor do instituto de física da Unicamp, a seu respeito: "nano é uma marca poderosa". Mas e a realidade tem se mostrado assim, de verdadeiro acesso, ou estamos presenciando cada vez mas as nanopatentes e o locupletamento cada vez maior dos já abonados?


Essas são perguntas que os formadores de opinião devem começar a levantar no Brasil para auxiliar o debate e a Precaução para o verdadeiro desenvolvimento sustentável da nação e isso deve começar do "nanopúblico"!